São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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O FIM DA CAÇADA

Ataque marca a redenção para a CIA

Desmoralizada por 11 de Setembro e Iraque, agência se cobre de glórias

Ação que levou à morte do terrorista Osama bin Laden foi planejada em detalhes pelo setor de inteligência americano

LUCIANA COELHO
EM BOSTON

Se houvesse um termômetro de "quem ganha/quem perde" com a operação que culminou na morte do líder da Al Qaeda, no topo estariam as agências de inteligência dos EUA.
Criticadas por não terem evitado o 11 de Setembro, questionadas por não produzirem informações palpáveis sobre o Iraque e ridicularizadas por deixarem Osama bin Laden escapar, elas recuperaram espaço.
"Até certo ponto, é uma redenção", disse à Folha Michael O'Hanlon, do centro de estudos Brookings.
O cenário que se delineava ficou óbvio com a escolha do atual chefe da CIA, Leon Panetta, para comandar Departamento de Defesa.
Em seu lugar, entrará David Petraeus, o general que conquistou status de herói nacional ao pôr o Iraque mais ou menos nos trilhos.
"Petraeus vai tornar a CIA mais proeminente, mas eles já vinham se recuperando e somando sucessos no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão e no Iêmen", afirmou O'Hanlon.
De qualquer forma, a morte de Bin Laden como ápice de uma operação de inteligência e não em um bombardeio soa como xeque-mate na cartilha dos ataques preventivos, grandes ações militares e longas ocupações.
Panetta destacou anos de esforço "incansável" de seus agentes, desenvolvendo "operações altamente complexas, inovadoras e vanguardistas".

REVISÃO
Isso não significa, claro, que a guerra no Afeganistão vá acabar da noite para o dia, embora as dúvidas e questionamentos sobre a retirada gradual proposta por Obama tendam a se dissipar.
Mas o trabalho de inteligência -mais capilar, pontual e baseado em recursos humanos- parece por ora mais apto a sobreviver aos cortes que Obama quer promover na Defesa, destino de 20% do que o governo americano desembolsa.
Uma questão espinhosa que o governo americano terá de rever em sua estratégia, no entanto, é a relação com o Paquistão -um investimento que se traduziu, na melhor de todas as hipóteses, em inoperância.
"Muitas perguntas serão feitas sobre o que o governo paquistanês fez e por que ele não colaborou com os EUA para trazer Bin Laden à Justiça", afirmou o ex-subsecretário de Estado americano e professor de Harvard Nicholas Burns.
Os analistas ouvidos pela Folha foram unânimes em questionar o laço, já desgastado pela livre circulação de insurgentes na fronteira afegã. "Já vínhamos perdendo cada vez mais a confiança um no outro, e isso tornas as coisas mais complicadas", afirmou O'Hanlon.
Para Richard Haass, chefe do Council on Foreign Relations, os EUA precisarão passar a agir "não contra o Paquistão, mas independentemente do Paquistão".


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