São Paulo, Sábado, 08 de Maio de 1999
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Corpos ficam espalhados pelas ruas

JULIJANA MOJSILOVIC
da "Reuters", em Nis

Três corpos ensanguentados jazem entre os escombros de uma pequena rua dessa cidade do sul da Sérvia na sexta-feira, depois que, segundo autoridades iugoslavas, os ataques da Otan atingiram um hospital e uma feira livre, matando 15 pessoas e ferindo 70.
Uma das vítimas era uma senhora idosa, morta por estilhaços enquanto carregava cenouras compradas na feira numa sacola de plástico. A 10 metros dela, um rapaz morto estava deitado em uma piscina de sangue.
"É uma catástrofe", diz Smilja Djuric, 73, parada ao lado do corpo. "Eu sobrevivi a duas guerras, mas nunca vivi nada assim".
Do outro lado da rua, um homem, também idoso, com ferimentos na cabeça está deitado perto de caixotes de papelão, que serviam para ele vender ovos e cebolas.
Um pouco mais para baixo na rua há um restaurante chamado "Tri Fenjera" (três postes de luz), onde, segundo um vizinho, uma garçonete foi morta na cozinha.
Jovan Zlatic, o chefe distrital do subúrbio de Medosevac, que denunciou ter havido um segundo ataque, disse que pelo menos 11 pessoas morreram e 50 ficaram feridas. Novas vítimas, porém, acabaram aparecendo.
A clínica de patologia do principal hospital da cidade foi danificada. Quase todas as janelas foram estilhaçadas. As paredes estão marcadas com pequenas crateras, que parecem ter sido causadas por uma arma que lançou estilhaços por uma grande área.
A polícia diz que foram bombas de fragmentação, normalmente usadas contra soldados em campos de batalha. Mais de dez latas amarelas com pára-quedas são visíveis na rua que leva ao hospital.
Mais de 20 dessas latas-bomba estão na área ainda sem terem explodido. A polícia pede cuidado às pessoas que estão caminhando pelo local.
Em um estacionamento perto do hospital, cerca de 14 carros estão queimados e mais meia dúzia com vidros quebrados e pneus vazios.
Radmila Mitrovic, 59, estava chorando em frente a uma casa totalmente arruinada: "Quem quer que tenha feito isso a nós, que Deus os faça pagar".
"É possível que algo assim aconteça apenas um dia depois de chegarmos perto de um acordo de paz?", pergunta o vice-premiê da Sérvia Milovan Bojic, durante visita ao local.


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