São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2001

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Ex-presidente está sem apoio popular e político

DE BUENOS AIRES

O Carlos Menem que foi preso ontem é uma sombra do Carlos Menem eleito duas vezes à Presidência argentina, que passou dez anos e seis meses no cargo -um recorde em toda a história do país- e que circulava com desenvoltura entre os principais líderes políticos do mundo.
De acordo com as pesquisas de opinião, Menem é o político de expressão com menor popularidade hoje na Argentina. Se não tem apoio popular, também lhe falta apoio de seus pares políticos. Nenhum dos principais líderes do Partido Justicialista, do qual ele permanece como presidente, fez declarações contundentes de apoio a ele nos últimos dias.
Na porta dos Tribunais de Retiro, em Buenos Aires, aonde compareceu pela manhã para depor e foi informado da ordem de prisão, Menem contava apenas com uma "claque" de cerca de 800 fiéis seguidores, na maior parte trazida em ônibus fretados pela Província de La Rioja, que já governou.
"No justicialismo, uma vez que o sujeito perde, transforma-se num miserável", disse à Folha o analista político Artemio López. "É uma cultura política na qual a derrota tem um juízo muito contundente. Quando alguém perde o poder, perde a Justiça, a razão e a verdade, e se transforma em uma espécie de pária", afirmou.
Segundo uma pesquisa da Ricardo Rouvier & Associados, divulgada nesta semana, 63,8% dos argentinos acreditam que Menem seja culpado no caso de contrabando de armas.
"Essa condenação popular é muito mais uma condenação ao resultado de seus dez anos de governo do que sobre esse caso em particular, que é de difícil compreensão para a população em geral", disse o analista Oscar Raúl Cardozo, do jornal "Clarín".
No governo Menem, a Argentina sofreu uma grande transformação, com a abertura econômica. Os serviços públicos foram privatizados, fixou-se a paridade do peso (moeda local) em relação ao dólar, e a hiperinflação, que chegara a 4.900% ao ano em 1999, foi debelada. Reduziu-se ainda o poder dos sindicatos e foram flexibilizadas as leis trabalhistas.
Menem deixou o poder com 4 milhões de desempregados e um elevado déficit fiscal, herança que paralisou o atual governo.
Menem tem reiterado constantemente sua intenção de concorrer à Presidência em 2003, mas poucos crêem que isso seja possível. "Isso é um conto, como a história de que o doce-de-leite é um invento argentino", ironizou Artemio López.
"Menem não tem mais nenhum retorno. O país que ele deixou após dez anos de governo foi o suficientemente desigual e pouco harmonioso. Deixou um importante setor da população descontente", disse.
"As imagens do casamento de Menem [em 26 de maio, com a chilena Cecilia Bolocco, ex-Miss Universo" mostravam um homem que parecia ter cem anos. Ele está em um processo natural de decadência biológica, que é irreversível", disse Cardozo. (RW)


Com agências internacionais


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