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Ex-presidente
está sem apoio
popular e político
DE BUENOS AIRES
O Carlos Menem que foi preso
ontem é uma sombra do Carlos
Menem eleito duas vezes à Presidência argentina, que passou dez
anos e seis meses no cargo -um
recorde em toda a história do
país- e que circulava com desenvoltura entre os principais líderes
políticos do mundo.
De acordo com as pesquisas de
opinião, Menem é o político de
expressão com menor popularidade hoje na Argentina. Se não
tem apoio popular, também lhe
falta apoio de seus pares políticos.
Nenhum dos principais líderes do
Partido Justicialista, do qual ele
permanece como presidente, fez
declarações contundentes de
apoio a ele nos últimos dias.
Na porta dos Tribunais de Retiro, em Buenos Aires, aonde compareceu pela manhã para depor e
foi informado da ordem de prisão, Menem contava apenas com
uma "claque" de cerca de 800 fiéis
seguidores, na maior parte trazida
em ônibus fretados pela Província
de La Rioja, que já governou.
"No justicialismo, uma vez que
o sujeito perde, transforma-se
num miserável", disse à Folha o
analista político Artemio López.
"É uma cultura política na qual a
derrota tem um juízo muito contundente. Quando alguém perde
o poder, perde a Justiça, a razão e
a verdade, e se transforma em
uma espécie de pária", afirmou.
Segundo uma pesquisa da Ricardo Rouvier & Associados, divulgada nesta semana, 63,8% dos
argentinos acreditam que Menem
seja culpado no caso de contrabando de armas.
"Essa condenação popular é
muito mais uma condenação ao
resultado de seus dez anos de governo do que sobre esse caso em
particular, que é de difícil compreensão para a população em geral", disse o analista Oscar Raúl
Cardozo, do jornal "Clarín".
No governo Menem, a Argentina sofreu uma grande transformação, com a abertura econômica. Os serviços públicos foram
privatizados, fixou-se a paridade
do peso (moeda local) em relação
ao dólar, e a hiperinflação, que
chegara a 4.900% ao ano em 1999,
foi debelada. Reduziu-se ainda o
poder dos sindicatos e foram flexibilizadas as leis trabalhistas.
Menem deixou o poder com 4
milhões de desempregados e um
elevado déficit fiscal, herança que
paralisou o atual governo.
Menem tem reiterado constantemente sua intenção de concorrer à Presidência em 2003, mas
poucos crêem que isso seja possível. "Isso é um conto, como a história de que o doce-de-leite é um
invento argentino", ironizou Artemio López.
"Menem não tem mais nenhum
retorno. O país que ele deixou
após dez anos de governo foi o suficientemente desigual e pouco
harmonioso. Deixou um importante setor da população descontente", disse.
"As imagens do casamento de
Menem [em 26 de maio, com a
chilena Cecilia Bolocco, ex-Miss
Universo" mostravam um homem que parecia ter cem anos.
Ele está em um processo natural
de decadência biológica, que é irreversível", disse Cardozo.
(RW)
Com agências internacionais
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