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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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VIAGEM INSÓLITA

Intenção é trazer voluntários para projetos habitacionais

Favela vira atração em novo parque americano

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Depois de cenário de filme e decoração de bares da moda, favela agora é atração de parque temático nos Estados Unidos. O Global Village & Discovery Center, em Americus (Geórgia), que seria inaugurado ontem, é uma espécie de Epcot Center -o parque cultural da Disney World em Orlando. Mas, no lugar de lojas, restaurantes e atrações culturais representando outros países, o novo parque tem como principal atrativo barracos e casas pobres de diferentes lugares do mundo.
Estranho? Pois além de "conhecer em primeira mão as condições em que vivem as pessoas pobres do mundo hoje em dia" -palavras do site do parque-, o visitante entusiasmado também pode aprender a... fabricar tijolos.
Peculiaridades à parte, a intenção é nobre. O parque, uma área de 24,3 mil m2 a cerca de 190 km ao sul de Atlanta que no passado abrigava uma fazenda de amendoim, pertence à Habitat for Humanity International -um movimento cristão ecumênico que tem como objetivo "eliminar a pobreza habitacional" no mundo.
Para tanto, possui missões e grupos de trabalho associados em 87 países, incluindo o Brasil, onde constrói casas que são vendidas a prestações para famílias carentes. A renda é revertida para a construção de novas moradias.
"A idéia do Global Village veio da necessidade de mostrarmos como são as casas que construímos no mundo, e como são as casas em em que essas pessoas [para quem construímos] viviam antes", disse à Folha David Minich, 51, diretor do parque.

"Moradias decentes"
O parque dispõe de apenas quatro atrações -um centro de visitantes, onde os turistas recebem explicações sobre o projeto e as áreas onde ele atua, um centro de demonstração, onde aprendem a fazer tijolos e telhas, e uma praça com lojas e exposições. Mas o grande atrativo é o vilarejo.
"É uma espécie de bairro onde há barracos e casas, todos com piso de terra, feitos de papelão, tábuas ou barro, com furos na parede e no teto e vãos onde insetos se instalam", disse Minich. "Logo ao lado, há modelos das casas construídas com a ajuda da Habitat -que são muito simples e pequenas, mas são moradias decentes."
Segundo ele, o objetivo é conquistar, entre os turistas, potenciais doadores e voluntários para os projetos. "O importante é colocar as pessoas em ação, para produzir algo, depois que elas são sensibilizadas por essa visão. Nós as encorajamos a participar, doar ou se oferecer como voluntários por algumas semanas ou até meses", afirma.

Casa do Brasil
O vilarejo tem hoje 15 casas, cada uma representando um país. "Como um barraco na Colômbia, por exemplo, é bem diferente de um em Hong Kong ou na Índia, tentamos mostrar todos", afirma Minich. Por enquanto, não há nenhuma que represente o Brasil.
"Ainda não a construímos, mas pretendemos fazê-lo no ano que vem. Por enquanto, a maioria é de países da África -a única latino-americana é da Guatemala."
As coordenadas para montar a favela do parque, segundo Minich, vieram de fotos e informações colhidas nos países onde a Habitat atua. O material é similar ao usado no "mundo real", e os voluntários que participaram de projetos de campo foram encarregados de dar maior realismo.
"Pretendíamos apenas construir um barraco para mostrar como as pessoas moravam, mas esses voluntários nos fizeram ver que uma favela não é somente uma série de barracos, é uma comunidade. As pessoas não apenas moram lá, elas cortam o cabelo, compram comida, se divertem."

Bom negócio
Segundo Minich, até agora foram investidos cerca de US$ 800 mil no parque, e as doações para o projeto já chegam a US$ 900 mil.
Isso significa que o dinheiro arrecadado -as entradas custam de US$ 3 a US$ 5- a partir daqui será todo investido na construção de casas.
E há, ainda, as doações. "Se você doa US$ 10 para a construção de casas na Índia, esse dinheiro será usado em casas na Índia, não no parque. As pessoas podem escolher com o que contribuir."


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