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entrevista
Especialista vê lado positivo em fenômeno
DA REPORTAGEM LOCAL
A pesquisadora filipina
Dovelyn Agunias, do Instituto de Políticas Migratórias de
Washington, estuda o impacto das migrações Sul-Sul
sobre o desenvolvimento dos
países pobres.
Em entrevista à Folha por
telefone, ela explicou porque
sustenta que as migrações
Sul-Sul não são necessariamente um fenômeno negativo ("elas contêm mecanismos que não existem nos
movimentos sul-norte e são
positivas para os países em
desenvolvimento") e elogiou
a política migratória dos países do golfo Pérsico ("nenhum país rico conseguiu
implementar uma política
tão bem sucedida").
Leia a seguir os principais
trechos:
(SA)
FOLHA - Por que a senhora defende uma visão menos dramática das migrações Sul-Sul?
DOVELYN AGUNIAS - As migrações Sul-Sul podem ser vistas como um problema, mas
há muita esperança nesses
fluxos. Eles contêm mecanismos que não existem nos
movimentos sul-norte e são
positivos para os países em
desenvolvimento.
A maior parte dos migrantes é pobre e pouco qualificada, e muitos conseguem de
fato uma vida melhor ao migrar. E eles muitas vezes
preenchem lacunas na demanda por empregos.
As migrações Sul-Sul também produzem transferência de técnicas e conhecimento. O trabalho de uma
enfermeira africana que migra para outro país do continente terá um impacto muito maior do que se ela for trabalhar no Reino Unido.
FOLHA - Como a sra. avalia a
atuação dos governos e dos organismos internacionais diante do
fenômeno?
AGUNIAS - Nas conferências
internacionais, todo mundo
já reconhece que uma parte
considerável da questão migratória está concentrada no
eixo Sul-Sul. Esse entendimento não existia há cinco
anos. Mas isso não se traduziu em ações concretas. Os
políticos têm em mãos dados
importantes, mas ainda não
fizeram nada com eles.
FOLHA - O golfo Pérsico é citado
como exemplo de gestão bem sucedida dos fluxos Sul-Sul...
AGUNIAS - Nenhum país rico
conseguiu implementar uma
política tão bem sucedida como aquela que vigora entre
os governos filipino e os do
golfo Pérsico. No ano passado, quase 1,5 milhão de pessoas saíram das Filipinas para trabalhar legalmente na
região. Cada uma pagou as
devidas taxas ao governo filipino para viajar já com contrato assinado.
Governos de Bangladesh,
Paquistão e outros países
também coordenam seus
fluxos de imigrantes rumo ao
Oriente Médio. É um sistema que funciona, mas há
problemas, principalmente
em matéria de condições de
trabalho e direitos humanos.
Os países do Oriente Médio
não são democracias liberais.
Não é por acaso que as Filipinas vão sediar o 2º Fórum
Mundial sobre Imigração e
Desenvolvimento, em outubro. E o encontro será voltado justamente para os direitos humanos.
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