São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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Derrota escancara dissonância na esquerda

JOSHUA CHAFFIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM BRUXELAS

Após falharem para capitalizar eleitoralmente a crise econômica que se apresentou como terreno fértil para expressão de eleitores descontentes, os socialistas europeus buscavam consolo na noite passada.
Em vez de ganhar espaço das siglas de centro-direita, os socialistas -o maior grupo do Parlamento Europeu- foram punidos nas urnas em países-chave como o Reino Unido, onde houve avanço nas extremas esquerda e direita.
"Foi uma noite difícil", afirmou Martin Schulz, líder do grupo socialista em Bruxelas. "Em alguns dias ganhamos, em outros perdemos", acrescentou ele, exortando seus correligionários para que mantenham apoio à plataforma do grupo.
Lideranças do bloco tentaram atribuir o desfecho a uma mescla de baixo comparecimento -que tende a distorcer os resultados em favor de siglas minoritárias- com contextos nacionais particulares.
Reservadamente, porém, alguns adotaram um tom mais direto à direção da campanha. "Se os socialistas foram incapazes de ir bem agora, quando eles conseguiriam ir bem?", reclamava um militante socialista, insatisfeito com o fato de o grupo não ter conseguido tirar proveito nas urnas da crise financeira global.
Os socialistas também externavam preocupação com a chegada em Bruxelas de 50 a 60 eurodeputados céticos quanto ao fortalecimento da União Europeia, oriundos de partidos de extremas direita ou esquerda. Acreditam que tais representantes farão pouco mais que discursos inflamados -pois provêm de quadros fragmentados que seriam muito pequenos para afetar o processo legislativo de forma significativa.

Nova campanha
Antes mesmo de a eleição europeia terminar, ontem à noite, um punhado de candidatos se organizava para outra campanha: tendo em vista a Presidência do Parlamento Europeu.
Os principais concorrentes são o polonês Jerzy Buzek e o italiano Mario Mauro, do centro-direitista Partido Popular Europeu (PPE), o socialista alemão Martin Schulz, além do azarão britânico Graham Watson (líder dos liberais).
Indicar o presidente será uma das primeiras missões do novo Parlamento, quando se reunir em 14 de julho. A despeito do título, o vencedor terá poder limitado para influenciar o processo legislativo do órgão, de acordo com analistas.
Se for aprovado o Tratado de Lisboa -que pretende consolidar a integração das instituições europeias- o presidente terá de entregar o cargo, como resultado de uma turbulenta negociação que envolve os países-membros do bloco.
Ainda assim, como face visível da instituição, o presidente desfruta de exposição midiática bem superior à de seus pares, além de acesso aos principais líderes mundiais -algo que notadamente agradou o atual dono do cargo, Hans-Gert Poettering, quando a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, visitou Bruxelas no último mês de abril.
Tradicionalmente, o PPE e os socialistas, na condição dos maiores partidos do Parlamento, dividem o cargo entre si -o mandato presidencial dura dois anos e meio, metade do prazo da legislatura.
Mas, desta vez, o acordo pode não ser repetido. Watson levantou uma objeção, que pode ganhar corpo entre seus pares. Para o britânico, a definição da Presidência não pode mais ser resultado de um acordo firmado nos bastidores.

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