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ARTIGO
Contra crise, Europa prefere capitalistas
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um tanto cabisbaixo, Manuel Valls, dirigente socialista,
espanhol naturalizado francês,
diagnosticou o que era mais ou
menos óbvio, ao fim da noite de
ontem, com o nítido fortalecimento dos partidos conservadores nas eleições para a renovação do Parlamento Europeu.
"A direita conseguiu transmitir a imagem de eficiência
para tirar a Europa da crise global, enquanto a esquerda emperrou e não conseguiu renovar sua linguagem e propostas."
Em tese, as eleições europeias são 27 processos eleitorais simultâneos em cada país
do bloco regional. Cada um seria um caso de importância singular se a maré conservadora
não tivesse sido tão eloquente.
É como se os europeus acreditassem que os defensores do
livre mercado estão mais qualificados que a esquerda para enfrentar uma recessão que o
mercado desregulamentado
criou. Vejamos alguns casos.
Os socialistas perderam na
França 13 eurodeputados. Receberam apenas 16,8% dos votos, praticamente empatando
com os 16,2% dos ambientalistas. Ruiu a tese de que o declínio do PS francês era uma questão de liderança. A substituição
da despreparada Ségolène Royal por Martine Aubry, nova dirigente do partido, não reverteu a tendência ao declínio.
Enquanto isso, a UMP, do
presidente Nicolas Sarkozy, ficou com 28% dos votos e deverá enviar a maior bancada francesa ao plenário europeu.
Na Itália, a esquerda acreditava que os escândalos pessoais
acabassem por prejudicar o primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Mas nem seu suposto "affaire" com uma napolitana de
18 anos e a divulgação de fotos
de mulheres nuas em sua casa
de campo o tiraram da dianteira na apuração. Seu grupo terá
de 39% a 43% dos votos -as urnas fecharam no país às 22h-,
contra 25% a 31% para o Partido Democrático, de esquerda.
O caso da Espanha é também
sintomático. Os socialistas do
primeiro-ministro José Luiz
Zapatero ficaram com 38,1%
dos votos e fizeram 21 deputados, dois a menos que o Partido
Popular, de direita, que recebeu 42,3% dos votos. Os partidos espanhóis fizeram campanha como se travassem a disputa pelo Parlamento interno. O
que colocou na berlinda o
PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), responsabilizado pela recessão e pelo altíssimo desemprego.
No Reino Unido, antes da divulgação dos resultados, o "Times" e o "Guardian" diziam haver o risco de os trabalhistas do
premiê Gordon Brown sofrerem a mais fustigante derrota
eleitoral do pós-Guerra, com a
possibilidade de amargarem a
quarta colocação.
Na Alemanha, a coligação
conservadora da chanceler Angela Merkel, recua em relação
ao pleito de 2004. Mas faz 38
eurodeputados, contra 21 para
o Partido Social Democrata, de
centro-esquerda.
A abstenção em ligeiro crescimento não exprime maior desinteresse pela política. Exprime bem mais a ideia de que a
UE, além de afetar pouco a vida
de cada um, é incapaz de conter
a crise na região.
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