São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Plano surge em meio a relatos de possível ataque ao Iraque, que teria estoque clandestino do vírus da doença

EUA vacinarão 500 mil contra varíola

WILLIAM J. BROAD
DO "THE NEW YORK TIMES"

Os EUA irão vacinar em breve cerca de 500 mil profissionais de saúde e de serviços de emergência contra a varíola como precaução contra um ataque bioterrorista, disseram funcionários do governo federal.
A administração está também fazendo preparativos para realizar uma vacinação maciça do público em geral -uma política abandonada há 30 anos- em caso de epidemia.
Desde 1983, somente 11 mil americanos que trabalham com o vírus da doença receberam a vacina, de acordo com os Centros para a Prevenção e o Controle de Doenças.
O plano do governo é uma admissão de que os programas atuais são insuficientes para combater uma grande disseminação da doença.
Ele está sendo desenvolvido em meio a relatos de planos de ataque ao Iraque, país que, segundo especialistas em terrorismo, mantém estoque clandestino do vírus da varíola que pode ser usado para fabricar armas biológicas.
Somente os EUA e a Rússia possuem estoques declarados do vírus. A varíola, altamente contagiosa, foi declarada erradicada do planeta em 1980, oito anos depois de os EUA terem interrompido as vacinações rotineiras contra a doença.
Até a sua erradicação, a varíola matava cerca de uma em cada três pessoas infectadas e não vacinadas. Como a imunidade pela vacina diminui com o tempo, muitas pessoas já vacinadas são consideradas mais vulneráveis hoje.
Mas funcionários do governo resistem a uma retomada da vacinação em massa, citando o provável risco de graves efeitos colaterais, inclusive a morte.
No mês passado, um comitê do governo federal apoiou um plano de criação de "vacinações em círculos", segundo o qual o pessoal médico isolaria pacientes infectados e vacinaria as pessoas em contato com eles, formando um anel de imunização em volta de um surto da doença e de sua disseminação. Em teoria, isso seria possível porque a vacina impede o desenvolvimento da doença se aplicada até quatro dias depois da exposição ao vírus.
Os planos mais agressivos do governo são possíveis por causa do rápido crescimento do estoque de vacinas após o aumento da produção posterior aos ataques terroristas de 11 de setembro.
"Agora podemos agir de forma diferente porque temos mais vacinas", disse Donald A. Henderson, conselheiro do secretário da Saúde, Tommy G. Thompson e um dos líderes da ação global de erradicação da varíola.
Membros do governo disseram que cerca de 100 milhões de doses da vacina contra a varíola (160 milhões se diluídas) estão disponíveis e que, até o final do ano ou pouco depois, haverá o suficiente para toda a população dos EUA, que soma mais de 280 milhões de pessoas.
Críticos do plano do governo afirmam que a abordagem de círculos de imunização, embora útil para conter surtos naturais, terá pouca ou nenhuma eficiência contra um inimigo moderadamente capaz e disposto a causar o máximo de vítimas.
"A não ser que o primeiro ataque seja muito pequeno e o agente infectante seja fraco, a vacinação em círculos não trará muitos benefícios", disse Edward H. Kaplan, especialista em saúde da Universidade Yale.
Outra crítica é a de que vários fatores reduziram a eficiência do método desde a erradicação da doença: as populações agora têm mobilidade muito maior, os níveis de imunidade são muito baixos e as tecnologias avançadas se disseminaram, aumentando as chances de o inimigo ter uma boa capacidade bioquímica.
O problema da vacinação preventiva é que a vacina usa um vírus vivo, similar ao da varíola, que pode eventualmente causar danos cerebrais ou mesmo matar. Na época da vacinação maciça, cerca de uma pessoa em 1 milhão morria por causa dela.


Próximo Texto: País terá polícia armada em aeroportos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.