|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Papa pede celebração de missas em latim
Decreto de Bento 16 publicado ontem estimula uso da língua na liturgia e lembra que ele nunca chegou a ser suspenso
Papa rejeita crítica de que decisão poderá provocar divisões entre os católicos; para líder judeu, linguagem do texto é "insultante"
DA REDAÇÃO
Em um decreto publicado
ontem, o papa Bento 16 estimulou a celebração das missas em
latim. A Santa Sé também divulgou uma carta do sumo pontífice dirigida aos bispos em
que destaca que o Missal (livro
que encerra as orações da missa) "é e permanece "a forma
normal" da liturgia eucarística".
Bento 16 destacou que a missa em latim nunca foi juridicamente suspensa e sempre foi
permitida. Segundo o documento, muitos movimentos e
pessoas continuam a celebrá-la, e fazia-se necessário uma regulamentação jurídica mais
clara sobre o tema.
Grupos judeus expressaram
preocupação pelo fato de o decreto reviver orações segundo
as quais os judeus são "cegos" à
verdade cristã.
Abraham Foxman, líder da
Liga Antidifamação, considerou a linguagem do decreto "insensível e insultante". Foxman
também expressou temor de
que o decreto possa prejudicar
a reconciliação histórica entre
as duas religiões.
Na carta aos bispos, o sumo
pontífice rejeitou a crítica segundo a qual essa mudança poderia dividir os católicos e fazer
retroceder as reformas introduzidas pelo concílio Vaticano
2º (1962-5). Este substituiu o
latim por línguas locais durante
a liturgia e suprimiu textos que
os judeus julgavam particularmente ofensivos.
Os católicos poderão pedir
aos padres para celebrarem
missas em latim ou se casarem
segundo os ritos antigos. Se o
padre se recusar, o fiel poderá
recorrer aos bispos. Se ainda
assim o fiel não for atendido,
poderá dirigir-se ao Vaticano.
O frade dominicano e escritor Frei Betto disse à agência
Reuters que seria mais útil oferecer missas em inglês já que as
escolas no Brasil e no mundo
não ensinam mais latim. "O retorno ao latim não vai ajudar a
igreja a recuperar os fiéis perdidos para os evangélicos."
O papa disse querer se reconciliar com os tradicionalistas,
que ficaram incomodados com
as reformas implementadas
pelo concílio Vaticano 2º.
A principal representante
dos tradicionalistas é a Sociedade São Pio 10º. Fundada pelo
arcebispo francês Marcel Lefebvre -excomungado pelo papa João Paulo 2º em 1988-,
tem 1 milhão de membros.
O líder da sociedade, bispo
Bernard Fellay, afirmou que
espera que a atmosfera favorável surgida com a nova medida
do papa permita discutir outras
questões doutrinais controversas "com mais serenidade".
Com agências internacionais
Texto Anterior: Para Lula, questão é "estratégica" Próximo Texto: Iraque: Explosão de caminhão mata mais de cem Índice
|