São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Papa pede celebração de missas em latim

Decreto de Bento 16 publicado ontem estimula uso da língua na liturgia e lembra que ele nunca chegou a ser suspenso

Papa rejeita crítica de que decisão poderá provocar divisões entre os católicos; para líder judeu, linguagem do texto é "insultante"

DA REDAÇÃO

Em um decreto publicado ontem, o papa Bento 16 estimulou a celebração das missas em latim. A Santa Sé também divulgou uma carta do sumo pontífice dirigida aos bispos em que destaca que o Missal (livro que encerra as orações da missa) "é e permanece "a forma normal" da liturgia eucarística".
Bento 16 destacou que a missa em latim nunca foi juridicamente suspensa e sempre foi permitida. Segundo o documento, muitos movimentos e pessoas continuam a celebrá-la, e fazia-se necessário uma regulamentação jurídica mais clara sobre o tema.
Grupos judeus expressaram preocupação pelo fato de o decreto reviver orações segundo as quais os judeus são "cegos" à verdade cristã.
Abraham Foxman, líder da Liga Antidifamação, considerou a linguagem do decreto "insensível e insultante". Foxman também expressou temor de que o decreto possa prejudicar a reconciliação histórica entre as duas religiões.
Na carta aos bispos, o sumo pontífice rejeitou a crítica segundo a qual essa mudança poderia dividir os católicos e fazer retroceder as reformas introduzidas pelo concílio Vaticano 2º (1962-5). Este substituiu o latim por línguas locais durante a liturgia e suprimiu textos que os judeus julgavam particularmente ofensivos.
Os católicos poderão pedir aos padres para celebrarem missas em latim ou se casarem segundo os ritos antigos. Se o padre se recusar, o fiel poderá recorrer aos bispos. Se ainda assim o fiel não for atendido, poderá dirigir-se ao Vaticano.
O frade dominicano e escritor Frei Betto disse à agência Reuters que seria mais útil oferecer missas em inglês já que as escolas no Brasil e no mundo não ensinam mais latim. "O retorno ao latim não vai ajudar a igreja a recuperar os fiéis perdidos para os evangélicos."
O papa disse querer se reconciliar com os tradicionalistas, que ficaram incomodados com as reformas implementadas pelo concílio Vaticano 2º.
A principal representante dos tradicionalistas é a Sociedade São Pio 10º. Fundada pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre -excomungado pelo papa João Paulo 2º em 1988-, tem 1 milhão de membros.
O líder da sociedade, bispo Bernard Fellay, afirmou que espera que a atmosfera favorável surgida com a nova medida do papa permita discutir outras questões doutrinais controversas "com mais serenidade".


Com agências internacionais


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