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ARTIGO
Antiga escola de ditadores persiste
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Disposto a preservar parcela
da América Latina na guerra
contra o terrorismo, o Pentágono trata de evitar o fechamento
de uma relíquia dos anos de
chumbo, a Escola das Américas. Até 1984 ela funcionou no
Panamá, de onde se deslocou
para Forte Benning, nos EUA,
por imposição do tratado de
1977 acabando com a ocupação
americana da zona do canal.
Um deputado do clã dos Kennedy, com o nome de seu avô
Joseph, assumiu o compromisso de sepultá-la e neste ano dois
parlamentares, Jim McGovern
e John Lewis, apresentaram
emenda que significaria o seu
fim, ainda não alcançado.
Há manifestações hostis
diante dos portões de Forte
Benning. Uma das presenças
constantes é a do ator Martin
Sheen, famoso em boa parte
pelo papel de presidente num
seriado de televisão. ONGs como a School of the Americas
Watch denunciam o que significou e pode significar a escola
na transição da Guerra Fria para essa nova espécie de conflito
sob suspeita de aplicar métodos brutais, inclusive tortura.
A má fama da SOA fez com
que o Pentágono pedisse e conseguisse do Congresso, em
2002, a mudança de nome.
Agora é o Western Hemisphere
Institute for Security Cooperation, ou Whinsec, a sigla em inglês cuja pronúncia, mais difícil, pode amenizar aparências.
Em Washington, o Council of
Hemispheric Affairs preparou
um dossiê sobre origens, denúncias e constatações. A Escola das Américas foi criada em
1946, como instrumento da
Guerra Fria. Não tardaram a
surgir rumores de que em seus
manuais havia técnicas de interrogatório que violavam direitos humanos, como tortura.
Um jornal panamenho, o "La
Prensa", chamou-a de "escola
de assassinos". Um ex-presidente do Panamá, Jorge Llueca, considerou-a "a maior base
de desestabilização da América
Latina". O apelido mais comum
ficou sendo o de "escola de ditadores". Mas não faltaram outros com apêndices de brutalidade, como "enfermaria de esquadrões da morte".
Em seus 59 anos, a ex-SOA
treinou mais de 60 mil militares latino-americanos em práticas de contra-insurgência. No
ano passado foram 670, a grande maioria da Colômbia, o que
configura a transição para a
guerra contra o terrorismo. Vários ex-ditadores latino-americanos, como o chileno Augusto
Pinochet, foram treinados lá.
Um de seus ex-alunos mais
notórios foi o major Roberto
D'Aubuisson, assassino do arcebispo Oscar Romero, de El
Salvador. As impressões digitais da ex-SOA ficaram no massacre de El Mozote (900 homens, mulheres e crianças) e
no esquadrão da morte do general hondurenho Humberto
Regalado. Também há rumores
de que os manuais tinham técnicas de gole de de Estado.
O Pentágono enfrenta dificuldades em incorporar militarmente a América Latina na
guerra contra o terror. Uma das
peças-chave, a base de Manta,
no Equador, está sob ameaça de
fechamento em 2009, quando
expira a concessão. O novo presidente equatoriano, um populista de esquerda, já disse que
não vai renová-la. Tampouco
andam bem as manobras navais conjuntas Unitas. Mas o
Whinsec continua de pé.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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