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CRISE
Habibie diz que população deve seguir tradição islâmica por causa da falta de alimentos
Presidente pede que indonésios jejuem
MARCIO AITH
de Tóquio
Depois de derrubar um presidente no poder havia três décadas
e assinar quatro acordos com o
FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo da Indonésia
iniciou ontem uma campanha heterodoxa para resolver sua crise
econômica.
O presidente Jusuf Habibie pediu à população que adote a prática muçulmana de jejuar dois dias
por semana para solucionar o problema crescente da falta de alimentos no quarto país mais populoso do mundo.
Segundo a agência oficial de notícias "Antara", Habibie pediu à
população que se dedique mais à
religião, argumentando que cada
indonésio poderia economizar 20
kg de arroz por ano se praticasse o
jejum às segundas e quintas-feiras,
uma prática comum entre os muçulmanos.
Com uma população superior a
200 milhões de habitantes, a Indonésia é a nação muçulmana mais
populosa do mundo. "Nós podemos economizar 3 milhões de toneladas de arroz se pelo menos 150
milhões de pessoas adotarem o jejum", disse Habibie, que chegou à
Presidência em maio, quando o
ditador Suharto renunciou em
meio à maior crise econômica do
país nos últimos 30 anos.
O arroz é o alimento básico da
maioria da população da Ásia.
Em 1985, o governo do presidente Suharto anunciou que o país havia atingido a auto-suficiência na
produção do alimento.
Essa auto-suficiência durou até
1993. Em 1994, com problemas climáticos, a Indonésia começou a
importar arroz. Com a crise asiática e os incêndios nas ilhas de Sumatra e de Kalimantam, as importações aumentaram ainda mais.
De abril do ano passado até março deste ano, o país importou 2
milhões de toneladas de arroz. O
governo estima importar 3,1 milhões de toneladas somente em
1998 -exatamente o que, segundo Habibie, a população poderia
economizar com o jejum.
Na semana passada, o ministro
da Agricultura, Soleh Solahuddin,
afirmou que, na região de Manokwari, na Província de Irian Jaya,
na ilha de Nova Guiné, os estoques
de arroz só vão durar três meses.
Em Irian Jaya existe o segundo
maior movimento separatista da
Indonésia, depois do grupo que
pede a independência da ex-colônia portuguesa de Timor Leste.
Nos últimos três dias, conflitos
entre a polícia e manifestantes do
movimento separatista Free Papua (Papua Livre) teriam deixado
sete pessoas mortas -segundo
uma entidade não-governamental
da Indonésia, Foundation of Village Development. Para o governo,
apenas um policial morreu.
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