São Paulo, quarta, 8 de julho de 1998

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CRISE

Habibie diz que população deve seguir tradição islâmica por causa da falta de alimentos
Presidente pede que indonésios jejuem

MARCIO AITH
de Tóquio

Depois de derrubar um presidente no poder havia três décadas e assinar quatro acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo da Indonésia iniciou ontem uma campanha heterodoxa para resolver sua crise econômica.
O presidente Jusuf Habibie pediu à população que adote a prática muçulmana de jejuar dois dias por semana para solucionar o problema crescente da falta de alimentos no quarto país mais populoso do mundo.
Segundo a agência oficial de notícias "Antara", Habibie pediu à população que se dedique mais à religião, argumentando que cada indonésio poderia economizar 20 kg de arroz por ano se praticasse o jejum às segundas e quintas-feiras, uma prática comum entre os muçulmanos.
Com uma população superior a 200 milhões de habitantes, a Indonésia é a nação muçulmana mais populosa do mundo. "Nós podemos economizar 3 milhões de toneladas de arroz se pelo menos 150 milhões de pessoas adotarem o jejum", disse Habibie, que chegou à Presidência em maio, quando o ditador Suharto renunciou em meio à maior crise econômica do país nos últimos 30 anos.
O arroz é o alimento básico da maioria da população da Ásia.
Em 1985, o governo do presidente Suharto anunciou que o país havia atingido a auto-suficiência na produção do alimento.
Essa auto-suficiência durou até 1993. Em 1994, com problemas climáticos, a Indonésia começou a importar arroz. Com a crise asiática e os incêndios nas ilhas de Sumatra e de Kalimantam, as importações aumentaram ainda mais.
De abril do ano passado até março deste ano, o país importou 2 milhões de toneladas de arroz. O governo estima importar 3,1 milhões de toneladas somente em 1998 -exatamente o que, segundo Habibie, a população poderia economizar com o jejum.
Na semana passada, o ministro da Agricultura, Soleh Solahuddin, afirmou que, na região de Manokwari, na Província de Irian Jaya, na ilha de Nova Guiné, os estoques de arroz só vão durar três meses.
Em Irian Jaya existe o segundo maior movimento separatista da Indonésia, depois do grupo que pede a independência da ex-colônia portuguesa de Timor Leste.
Nos últimos três dias, conflitos entre a polícia e manifestantes do movimento separatista Free Papua (Papua Livre) teriam deixado sete pessoas mortas -segundo uma entidade não-governamental da Indonésia, Foundation of Village Development. Para o governo, apenas um policial morreu.



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