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COLÔMBIA
Para Santos, fim do tráfico mudará perfil do conflito
Governo exige cessar-fogo total para dialogar, diz vice de Uribe
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O novo governo colombiano
exige um "cessar-fogo total" da
guerrilha e dos grupos paramilitares como condição para iniciar
um diálogo. "A disposição do governo [para negociar" é total, mas
precisamos saber é se há disposição por parte dos grupos violentos", disse o vice-presidente Francisco Santos, 38.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Bogotá, Santos disse que
o governo Uribe pretende fazer
em quatro anos o que seus antecessores vêm tentando há mais de
duas décadas: acabar com o narcotráfico, considerado a base de
todo o conflito do país.
Integrante da família proprietária do jornal "El Tiempo", o mais
importante do país, Santos foi sequestrado, em 1990, pelo grupo
dos "extraditáveis", narcotraficantes liderados por Pablo Escobar que promoviam uma campanha terrorista contra o Estado para evitar serem julgados nos EUA.
A história do sequestro de Santos, na época diretor de Redação
do jornal, foi relatada no livro
"Notícia de um Sequestro", de
Gabriel García Márquez. Santos
foi solto em 1991, após o governo
aceitar rever a lei de extradição.
A indicação de Santos a vice de
Uribe, em março, foi criticada em
editorial do "Tiempo", do qual ele
já havia se afastado após o sequestro para dirigir a Fundación País
Libre, organização de combate
aos sequestros. O jornal declarou
sua independência em relação ao
governo e disse que Santos não
poderia voltar a trabalhar na empresa. Leia a seguir trechos da entrevista que concedeu à Folha.
Folha - O que muda no conflito
colombiano com o novo governo?
Francisco Santos - Primeiro é
que haverá muito mais investimento do Estado. Nos próximos
dois anos, pretendemos gastar
US$ 1 bilhão a mais anualmente, o
que vai permitir ampliar muito o
efetivo militar e comprar equipamentos para um esforço sério. Segundo, mudar a doutrina e a prática militar, de forma muito mais
estratégica, para apontar a objetivos que modifiquem o balanço do
conflito. Terceiro, decisão e vontade de fazer respeitar os direitos
humanos com um Estado forte.
Folha - E existe a possibilidade de
este governo iniciar um novo processo de paz com a guerrilha?
Santos - Um processo de paz como fez o presidente Andrés Pastrana não, porque não haverá
desmilitarização de nenhuma região e exigimos um cessar-fogo
como condição para negociar. A
disposição do governo é total,
mas precisamos saber é se há disposição por parte dos grupos violentos.
Folha - E uma negociação poderia
incluir também os paramilitares?
Santos - O presidente já disse
que sim, que ele está aberto a um
processo político. Mas as condições são as mesmas.
Folha - Qual o maior problema da
Colômbia hoje?
Santos - Acho que o principal é o
narcotráfico. Isso é o que move o
conflito armado, dá dinheiro aos
paramilitares e à guerrilha. O que
temos de fazer é atacar o narcotráfico, com toda a vontade, decisão e esforço. O presidente Uribe
já fixou uma meta muito ambiciosa, que dentro de quatro anos
não saia um quilo mais de droga
da Colômbia. Sabemos que é difícil, mas a vontade nesse sentido é
absolutamente clara. Que não haja a menor dúvida para a comunidade internacional, para os narcotraficantes e para os colombianos. Quando acabarmos com esse
delito, o conflito passará a ter uma
dimensão diferente.
Folha - Há 20 anos os governos
colombianos prometem acabar
com o narcotráfico. Como é possível fazê-lo em quatro anos?
Santos - A verdade, quero ser
sincero, é que os governos colombianos não têm sido claros nem
tiveram vontade suficiente, não
tomaram decisões. Iremos a fundo nisso. Acho que a ajuda dos
EUA pode ser a grande diferença
para acabar com o problema. Temos capacidade, sem dúvida, de,
em quatro anos, mudar completamente o balanço militar do conflito, cortando as fontes de financiamento dos grupos violentos.
Folha - O novo governo pedirá
ampliação da ajuda americana?
Santos - Para nós seria muito
importante que essa ajuda aumentasse. De qualquer maneira,
já estão nos ajudando, com cerca
de US$ 600 milhões ao ano. Mas é
óbvio que este conflito pode desestabilizar o continente. Por isso
a importância dos EUA é vital.
Folha - O sr. considera a situação
atual pior do que a da época em
que o sr. foi sequestrado?
Santos - A força dos grupos armados hoje é muito maior. Os ingressos pelo narcotráfico se multiplicaram, os ingressos pelos sequestros se multiplicaram.
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