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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Para Craig Unger, que escreveu "As Famílias do Petróleo", proximidade põe segurança em xeque
Elo Bush-sauditas ameaça EUA, diz autor
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
George W. Bush está evitando
as "perguntas difíceis" e, com isso, colocando em xeque a segurança nacional americana.
Para o jornalista Craig Unger,
autor do recém-lançado "As Famílias do Petróleo" ("House of
Saud, House of Bush", editora Record), as "perguntas difíceis" são
aquelas que Bush deveria fazer a
seus aliados sauditas, com quem o
presidente estaria sendo leniente
demais por conta das relações
próximas que sua família mantém há anos com a casa real.
Nas 420 páginas do livro, o repórter da "New Yorker" e consultor das redes de TV CNN e ABC
esmiúça essas relações e suas supostas implicações na segurança
americana a partir da permissão
do governo Bush para 140 sauditas (inclusive 23 membros da família Bin Laden) deixarem o país
nos dias seguintes ao 11 de Setembro, quando aviões comerciais estavam proibidos de voar, sem serem formalmente interrogados.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Unger concedeu à Folha por telefone.
Folha - Há uma história de boas
relações entre os EUA e a Arábia
Saudita que não começou com os
Bushes. O que mudou?
Craig Unger -Os Bushes têm uma
relação sem precedentes: eu rastreei US$ 1,4 bilhão em investimentos sauditas em empresas nas
quais os Bushes têm grande participação, como o grupo Carlyle e a
Halliburton. Além disso, Bush pai
é muito próximo do príncipe
Bandar bin Sultan [embaixador
saudita nos EUA]. Os Bushes são
tão próximos dos sauditas que
deixaram de fazer as perguntas
difíceis. Essa relação compromete
uma questão desesperadamente
importante para os EUA: a segurança nacional. O 11 de Setembro
não teria acontecido sem os sauditas. Quinze dos seqüestradores
[dos aviões usados nos ataques]
eram sauditas. A Al Qaeda é saudita. Bin Laden é saudita.
Folha - A Arábia Saudita retirou a
cidadania de Bin Laden.
Unger -É verdade, mas os sauditas estão jogando nos dois times.
Trata-se de uma monarquia teocrática onde a religião do Estado é
uma vertente extremista, fundamentalista do islã, que em sua forma mais extrema gera um Osama
bin Laden. Metade das pessoas na
Arábia Saudita apóia Bin Laden.
Folha - Quais seriam as perguntas
difíceis a serem feitas?
Unger -"Queremos transparência no modo como os bancos sauditas estão financiando o terrorismo", "queremos transparência
no modo como algumas entidades assistenciais sauditas financiam o terrorismo". Veja os sauditas que deixaram os EUA naquela
semana [do 11 de Setembro]. A
Casa Branca lhes deu uma permissão para não cumprir regras.
Folha - Bin Laden tem 53 irmãos.
O sr. acha possível presumir que
eles tenham relações próximas?
Unger -Numa investigação criminal séria você entrevista gente
inocente. Sabemos se algum
membro da família continua a financiá-lo? Há poucas semanas,
Yeslam bin Laden foi indagado
em uma entrevista se entregaria o
irmão se tivesse contato com ele.
Ele disse que não. É provável que
descobríssemos coisas interessantes sobre essas pessoas se elas
fossem interrogadas oficialmente.
Folha - Qual seria a política adequada quanto à Arábia Saudita?
Unger -Temos de manter uma
boa relação, porque precisamos
do petróleo deles. Mas não que
devamos lhes dar passe livre.
Creio que se você analisar os países que mais permitiram a proliferação de terroristas, a Arábia Saudita provavelmente é o primeiro.
Folha - Seu livro serviu de base
para uma parte do documentário
"Farenheit 11 de Setembro", que
algumas pessoas afirmam satanizar os sauditas. O sr. concorda?
Unger -O filme, de fato, é muito
crítico aos sauditas, e eu, de certa
forma, também sou. Os sauditas,
por muitos anos, foram apresentados de forma completamente
acrítica na mídia americana. É
verdade que os EUA dependem
do petróleo saudita. Mas é meio
como um pacto com o demônio.
Folha - E como pressionar, considerando tantos laços econômicos?
Unger -É uma boa pergunta,
mas acho que o governo Clinton
em 1998 conseguiu isso após os
atentados contra as embaixadas
dos EUA no Quênia e na Tanzânia. Precisou que o presidente dos
EUA fosse até o príncipe Abdullah dizer "precisamos da sua ajuda". Ele teve algum sucesso.
Folha - O sr. acredita que o governo Bush não tenha feito tal pedido?
Unger -Sim. Dois dias após o
ataque, o príncipe Bandar visitou
a Casa Branca. Bush deveria ter
dito que isso tinha que parar, pedido transparência. Em vez disso,
ele deixa os aviões partirem.
Folha - O que o sr. espera da política externa se Bush for reeleito?
Unger -Estou assustado. Eu vejo
na Guerra do Iraque um erro, um
desastre. Mas esse governo não a
vê assim. Eles acham que é só a
primeira de várias empreitadas.
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