São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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PLEBISCITO

Apesar do tiroteio verbal, campanha entra na última semana sem violência; pesquisa oposicionista dá vantagem a Chávez

Venezuela chega "calma" à reta decisiva

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Polarizada, mas não radicalizada, como definiu um analista político, a Venezuela inicia hoje sua última semana da extenuante e polarizada campanha eleitoral em torno do plebiscito convocado pela oposição para tirar Hugo Chávez do poder, no próximo domingo. Segundo a as últimas pesquisas de opinião, o presidente venezuelano, que assumiu em 1998, deve continuar no poder até janeiro de 2007 -isso se não for reeleito para mais seis anos.
O plebiscito será decisivo para os próximos anos da política venezuelana. Além do governo federal, também estão em jogo as eleições para governadores e prefeitos, que serão realizadas já em 26 de setembro. Quem ganhar o plebiscito naturalmente sairá em vantagem devido ao pequeno espaço de tempo entre os dois pleitos. Se confirmada a vitória de Chávez com alguma folga, a oposição sairá ainda mais dividida e deve continuar perdendo espaço no tabuleiro político venezuelano.
O favoritismo oficialista fez até com que o governo do presidente George W. Bush, um duro crítico de Chávez, começasse a emitir sinais de paz na semana passada. Em artigo publicado anteontem pelo jornal britânico "Financial Times", diversos diplomatas americanos ouvidos sob a condição do anonimato já admitiam a vitória chavista e defendiam a reaproximação com o governo de um dos principais fornecedores de petróleo aos EUA -15% da demanda norte-americana.
O presidente venezuelano sentiu o tom conciliador e, também na sexta-feira, disse que, se Bush for reeleito em novembro, espera que ele "receba bons conselhos" porque não é possível que "um país como esse, um aliado estratégico, tem sido pressionado" a criticar a Venezuela.
É uma guinada e tanto para Chávez, que vem acusando Bush de financiar a oposição e de ter apoiado o frustrado golpe de Estado de abril de 2002.
O tom bélico da campanha, no entanto, continua. Nos últimos dias, chavistas e oposição aumentaram a troca de acusações mirabolantes. Há uma semana, por exemplo, o governo denunciou um plano de golpe militar que incluía bombardear Chávez com um avião F-16 e matá-lo ao vivo na TV, durante o seu programa dominical, "Alô, Presidente".
Nada disso, no entanto, se converteu até agora em sangrentos confrontos, que deixaram dezenas de mortos nos últimos anos.
"Um referendo é uma opção dramática -sim ou não. Mas a radicalização implícita na polarização está um tanto atenuada", disse à Folha o analista político e diretor do diário "Tal Cual", Teodoro Petkoff, crítico de Chávez.
Questionado sobre as espalhafatosas trocas de acusação, o sociólogo venezuelano Edgardo Lander, que apóia Chávez, disse: "Uma coisa que se tem de agradecer na Venezuela é que, apesar do tom agressivo do discurso político, a violência política tem sido bastante limitada. Claro, se alguém chega à Venezuela hoje e assiste à TV, pensa que estamos às vésperas de uma guerra civil".

Pesquisa interna
A Folha apurou que uma pesquisa interna da oposição realizada entre os dias 23 e 26 de julho mostra Chávez na frente e ainda com uma imagem mais favorável entre os os eleitores indecisos.
De acordo com essa pesquisa, a maioria dos indecisos vê a oposição dividida, sem um líder com credibilidade ou um programa de governo. E, embora Chávez tenha uma imagem negativa, eles disseram temer o caos que sua remoção possa trazer.
Não é difícil entender essa desconfiança: a Coordenação Democrática (coalizão oposicionista) é um aglomerado de 20 partidos políticos que desconfiam um do outro. Tanto que o comando da campanha teve de acomodar 18 membros, em vez dos cinco inicialmente planejados.


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