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Rússia quer vender produtos bélicos para a Argentina
Após venda de US$ 3 bilhões em equipamentos à Venezuela, russos investem em parceria com o governo Néstor Kirchner
Moscou quer aproveitar discurso de Buenos Aires, que promete recompor o orçamento da área militar
e a indústria bélica local
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Depois de vender US$ 3 bilhões em aeronaves militares à
Venezuela, agora a Rússia quer
que a Argentina também compre seus produtos bélicos
-principalmente aviões, barcos de patrulha e blindados. A
intenção dos russos é aproveitar o discurso do governo Néstor Kirchner, que promete recompor o orçamento da área
militar e a indústria local, depois de mais de duas décadas de
retração das Forças Armadas.
Na semana passada, o embaixador russo em Buenos Aires,
Yuri Korchagin, transmitiu à
ministra da Defesa argentina,
Nilda Garré, a intenção de Moscou de "abrir o caminho para a
cooperação técnico-militar"
entre os países, informou a pasta em um comunicado.
Segundo o jornal "La Nación", a proposta dos russos é
trocar os equipamentos militares por produtos agropecuários, o que estaria sendo estudado pelo governo argentino. A
Rússia é hoje a maior compradora de carne da Argentina, e a
cooperação seria uma forma de
o governo Kirchner driblar o
baixo orçamento da Defesa.
"A Argentina manteve nos
últimos anos um baixo nível de
compras de armamentos, devido, entre outras causas, à situação econômica do país", disse
Garré ao diplomata russo, que
levou à reunião um portifólio
com as vendas de Moscou aos
países da região. O embaixador
citou a venda de helicópteros a
Brasil e México e a exportação
de caminhões para o Uruguai.
O informe da Defesa argentina não cita, porém, a compra
pela Venezuela de 24 aviões e
53 helicópteros russos na semana passada, parte de um pacote bilateral de mais de US$ 3
bilhões. O governo argentino
não quer vincular o possível
acordo ao avanço de Hugo Chávez na área militar.
Para ganhar o mercado argentino, os russos oferecem
uso de mão-de-obra local,
montando fábricas para a manutenção dos equipamentos,
modelo já usado na Colômbia.
Outra possibilidade é fabricar
em território argentino e com
tecnologia russa.
A proposta russa vai ao encontro da lei de obtenção de recursos para a Defesa, enviada
por Kirchner ao Congresso e
ainda em tramitação. Pelo projeto, a Argentina condiciona a
compra da maioria dos equipamentos militares à transferência de tecnologia ou a utilização
de mão-de-obra local.
Defesa sucateada
A intenção de Kirchner de recompor o orçamento da Defesa
e reequipar as Forças Armadas
acompanha tendência na região. Segundo o Sipri (Instituto
Internacional de Investigações
para a Paz, na sigla em espanhol), no último ano os países
da América Latina aumentaram em 7,2% a verba da defesa,
ainda que tenham, comparativamente, os orçamentos mais
baixos do mundo para o setor.
Pelos dados da ONG Resdal
(Rede de Segurança e Defesa da
América Latina), a Argentina
destinou em 2006 US$ 1,8 bilhão ao Ministério da Defesa,
0,89% do PIB (Produto Interno
Bruto). No Brasil, o Orçamento
deste ano prevê 1,68% do PIB
para a área (US$ 17,2 bilhões).
No Chile, os gastos com defesa
são 2,44% do PIB. Em 2005, a
Venezuela aplicou 1,2% do PIB
-não há números deste ano.
Apesar do mal-estar com setores das Forças Armadas por
pregar a punição dos crimes
durante a ditadura (1976-1983),
o Ministério da Defesa argentino tem defendido a reestruturação do orçamento da área e
da indústria bélica local.
Um dos motivos dessa tendência na América Latina é a
incorporação de militares em
trabalhos de segurança interna
e na luta contra o narcotráfico.
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