São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Rússia quer vender produtos bélicos para a Argentina

Após venda de US$ 3 bilhões em equipamentos à Venezuela, russos investem em parceria com o governo Néstor Kirchner

Moscou quer aproveitar discurso de Buenos Aires, que promete recompor o orçamento da área militar e a indústria bélica local


FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

Depois de vender US$ 3 bilhões em aeronaves militares à Venezuela, agora a Rússia quer que a Argentina também compre seus produtos bélicos -principalmente aviões, barcos de patrulha e blindados. A intenção dos russos é aproveitar o discurso do governo Néstor Kirchner, que promete recompor o orçamento da área militar e a indústria local, depois de mais de duas décadas de retração das Forças Armadas.
Na semana passada, o embaixador russo em Buenos Aires, Yuri Korchagin, transmitiu à ministra da Defesa argentina, Nilda Garré, a intenção de Moscou de "abrir o caminho para a cooperação técnico-militar" entre os países, informou a pasta em um comunicado.
Segundo o jornal "La Nación", a proposta dos russos é trocar os equipamentos militares por produtos agropecuários, o que estaria sendo estudado pelo governo argentino. A Rússia é hoje a maior compradora de carne da Argentina, e a cooperação seria uma forma de o governo Kirchner driblar o baixo orçamento da Defesa.
"A Argentina manteve nos últimos anos um baixo nível de compras de armamentos, devido, entre outras causas, à situação econômica do país", disse Garré ao diplomata russo, que levou à reunião um portifólio com as vendas de Moscou aos países da região. O embaixador citou a venda de helicópteros a Brasil e México e a exportação de caminhões para o Uruguai.
O informe da Defesa argentina não cita, porém, a compra pela Venezuela de 24 aviões e 53 helicópteros russos na semana passada, parte de um pacote bilateral de mais de US$ 3 bilhões. O governo argentino não quer vincular o possível acordo ao avanço de Hugo Chávez na área militar.
Para ganhar o mercado argentino, os russos oferecem uso de mão-de-obra local, montando fábricas para a manutenção dos equipamentos, modelo já usado na Colômbia. Outra possibilidade é fabricar em território argentino e com tecnologia russa.
A proposta russa vai ao encontro da lei de obtenção de recursos para a Defesa, enviada por Kirchner ao Congresso e ainda em tramitação. Pelo projeto, a Argentina condiciona a compra da maioria dos equipamentos militares à transferência de tecnologia ou a utilização de mão-de-obra local.

Defesa sucateada
A intenção de Kirchner de recompor o orçamento da Defesa e reequipar as Forças Armadas acompanha tendência na região. Segundo o Sipri (Instituto Internacional de Investigações para a Paz, na sigla em espanhol), no último ano os países da América Latina aumentaram em 7,2% a verba da defesa, ainda que tenham, comparativamente, os orçamentos mais baixos do mundo para o setor.
Pelos dados da ONG Resdal (Rede de Segurança e Defesa da América Latina), a Argentina destinou em 2006 US$ 1,8 bilhão ao Ministério da Defesa, 0,89% do PIB (Produto Interno Bruto). No Brasil, o Orçamento deste ano prevê 1,68% do PIB para a área (US$ 17,2 bilhões). No Chile, os gastos com defesa são 2,44% do PIB. Em 2005, a Venezuela aplicou 1,2% do PIB -não há números deste ano.
Apesar do mal-estar com setores das Forças Armadas por pregar a punição dos crimes durante a ditadura (1976-1983), o Ministério da Defesa argentino tem defendido a reestruturação do orçamento da área e da indústria bélica local.
Um dos motivos dessa tendência na América Latina é a incorporação de militares em trabalhos de segurança interna e na luta contra o narcotráfico.


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