São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2008

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análise

General é para os EUA aliado incompetente

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Há algo de patético na decadência política do paquistanês Pervez Musharraf, 65. Antes discricionário, seu impeachment se tornou uma questão capaz de reunificar duas correntes de adversários civis que ele perseguiu por oito anos.
Há o PPP (Partido do Povo Paquistanês), do clã Bhutto, e os islâmicos moderados do PLM-N, liderados por Nawaz Sharif, deposto no golpe militar de 1999. Os dois grupos divergiam sobre a recondução dos magistrados que o general Musharraf destituiu em novembro de 2007, tanto que Sharif e partidários se retiraram do governo do premiê Yousaf Raza Gilani.
Propor o impeachment do ex-ditador foi agora para os dois partidos um pretexto para a reconciliação.
Musharraf já teve um lastro mais sólido. Nos dois primeiros anos como ditador ele manteve boas relações com o Taleban, radicais sunitas que exerciam o poder no vizinho Afeganistão.
Pouco depois do 11 de Setembro, o grupo foi defenestrado por uma coalizão militar liderada pelos Estados Unidos. E Musharraf, objeto de sanções americanas e britânicas em razão do golpe de estado de 1999, tornou-se um aliado da administração Bush para combater os extremistas escondidos na porosa fronteira afegã.
Os US$ 10 bilhões que a partir de 2001 Musharraf recebeu do governo americano fortaleceram ainda mais sua ditadura e despertaram nele o desejo de se legitimar.
Convocou em 2002 um plebiscito sobre sua permanência no poder até 2007. É claro que o venceu sem dificuldades. E elegeu um Parlamento submisso.

Receita desanda
Quis repetir a receita. Em eleição indireta, virou presidente em outubro último. Mas em setembro decretou o estado de sítio e suspendeu a Constituição porque a Corte Suprema contestava a validade de sua eleição, concomitante ao exercício da chefia das Forças Armadas.
O Parlamento estava para ser renovado. O governo americano pensava em manter Musharraf, mas com Benazir Bhutto como primeira-ministra. Benazir foi assassinada em dezembro, as eleições foram adiadas para fevereiro, e o partido dela obteve ampla maioria.
Com o fim do segundo mandato de Bush, é consensual nos Estados Unidos a inutilidade de ter enviado tanto dinheiro e armas ao Paquistão. O Taleban nunca esteve tão atuante, e Osama Bin Laden, refugiado talvez em território paquistanês, continua à deriva. Musharraf foi para Washington um aliado inoperante e ineficaz.


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