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Chofer de Bin Laden fica a 5 meses de soltura
Sentença por apoio material a terrorismo foi de cinco anos e meio, mas ele já está preso há 61 meses em Guantánamo
Promotoria pedira ao menos 30 anos de reclusão para
o 1º condenado por junta militar; libertação pode ser impedida por governo Bush
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A junta militar de Guantánamo foi mais branda do que o esperado ao estabelecer a pena de
Salim Ahmed Hamdan, considerado culpado na véspera da
acusação de prover apoio material ao terrorismo. O iemenita
Hamdan, ex-motorista de Osama Bin Laden, foi condenado a
cinco anos e meio de prisão.
Como já passou 61 meses recluso na prisão que o governo
de George W. Bush criou na base militar em Cuba, Hamdan
precisa cumprir apenas mais
cinco meses, em cela isolada
dos demais detentos.
Ainda não está claro, contudo, se o motorista será libertado e enviado ao Iêmen ao final
desse período. Um porta-voz
do Pentágono disse que ele
continuará sendo considerado
um "combatente inimigo" após
cumprir sua sentença, mas terá
direito a ter seu status revisto.
Hamdan não receberá nenhum crédito pelos cerca de
dois anos que passou em prisão
militar dos Estados Unidos até
2003. Ele havia sido capturado
em 24 de novembro de 2001,
em operação dos EUA subseqüente aos atentados de 11 de
setembro daquele ano, que deixaram cerca de 3.000 mortos.
A sentença judicial é a primeira proferida em Guantánamo, onde estão presos outros
264 suspeitos de terrorismo. O
julgamento foi o primeiro a ser
conduzido por um painel militar nos EUA desde o fim da Segunda Guerra (1939-45).
Em sua deliberação, a comissão formada por seis militares
americanos havia inocentado o
motorista da acusação mais
grave, a de conspiração na organização terrorista Al Qaeda. Se
tivesse sido considerado culpado por esse crime, poderia ser
condenado à morte.
Surpresa
Na sentença formulada ontem, após mais de uma hora de
discussão entre os juizes, prevaleceu a alegação da defesa de
que Hamdan era um simples
empregado de Bin Laden.
O réu havia confirmado que
sabia estar servindo a uma organização terrorista -Bin Laden já era um fugitivo na época
do atentado aos EUA- mas que
continuava no emprego por
precisar garantir o sustento dos
dois filhos e temer retaliação se
deixasse o grupo.
Hamdan, que diz ter 40 anos
de idade, declarou também que
recebia US$ 200 de salário e
que tem apenas quatro anos de
estudo, o que limitava suas possibilidades de trabalho.
A pena aplicada pelo júri militar foi recebida com surpresa
nos Estados Unidos, onde se especulava que a sentença seria
mais severa. A Promotoria pedia de "pelo menos, 30 anos"
até prisão perpétua. A defesa
sugeria 45 meses de prisão.
Diante do júri, o iemenita pediu ontem desculpas às vítimas
de atentados terroristas perpetrados pela Al Qaeda. "Foi triste
e desolador ver pessoas inocentes morrerem", afirmou.
Desde que ele foi considerado culpado na última quarta,
entidades de direitos civis intensificaram seus protestos
contra a prisão criada pelo governo Bush na baía de Guantánamo que, por estar fora do território americano, não está
submetida às mesmas leis do
país. Com isso, pratica-se lá,
por exemplo, afogamento simulado para obter confissões.
Recentemente, contudo, a
Suprema Corte dos EUA deu
aos presos de Guantánamo a
possibilidade de recorrer a tribunais civis do país caso considerem que seus direitos não estão sendo respeitados -o que
pode se aplicar caso Bush determine que Hamdan continue
preso mesmo após ter cumprido a sua pena.
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