São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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SUPLEMENTO TIME
Leia trecho sobre Lewinsky


Leia a seguir o trecho não publicado da reportagem sobre o caso Monica Lewinsky na última edição do Suplemento "Time":
Starr resolvera deixá-la de fora do caso e estava montando o quebra-cabeça a partir de depoimentos de seus amigos, colegas estagiários, sua mãe e até agentes do Serviço Secreto. Esses depoimentos poderiam reduzir a pó as declarações da própria Monica.
Ao mesmo tempo, ela mal podia se mexer por causa da abominável guerra pública travada por seu pai e pelo advogado William Ginsburg contra a equipe de Starr. Como saldo, restou uma mútua desconfiança. No dia 28 de maio, quando foi convocada para um teste caligráfico, ela compareceu ao escritório do FBI, em Los Angeles, mas recusou-se a cooperar.
Na semana seguinte, Monica ressurgiu assessorada por outros dois advogados, Plato Cacheris e Jacob Stein, profissionais bastante experientes, muito bem relacionados, que poderiam mudar o clima emocional da situação. Em junho, ocorreram vários encontros com Starr na tentativa de aliviar as tensões. O primeiro deles aconteceu no dia 2, em total sigilo, para convencer a equipe do promotor especial de que, ao contrário de Ginsburg, os novos advogados pretendiam evitar publicidade. "Não queríamos saber de alvoroço", disse Stein. "Nossa intenção era negociar com dignidade, e esperávamos o mesmo deles." Desde o princípio, os advogados de Lewinsky deixaram claro que não deixariam que sua cliente assumisse a culpa por qualquer crime. Nem mesmo admitiam falar sobre isso. Starr concordou.
Na terça-feira, 21 de julho, enquanto a Casa Branca ignorava suas convocatórias, o promotor especial resolveu pôr mãos à obra. Pediu a Sam Dash, ex-consultor jurídico do caso Watergate, que entrasse em contato com seu colega Stein e propusesse um encontro. A proposta foi aceita. O telefonema seguinte veio do próprio Starr, sugerindo que se encontrassem no dia seguinte na casa de Dash, em Chevy Chase, Maryland.
A sessão durou aproximadamente uma hora e parecia mais uma reunião social do que um encontro de cúpula. Os quatro nomes envolvidos estavam finalmente juntos: Starr e Dash, Cacheris e Stein. Mas o caso não foi discutido. Tudo não passou de um ritual para que eles conquistassem confiança mútua. Segundo seus advogados, Monica temia que aquilo que tinha a dizer não fosse suficiente para Starr, enquanto o promotor desconfiava da credibilidade da moça. Partiu de Dash a proposta para que ela falasse diretamente com o promotor, sob privilégios especiais que a protegeriam de uma possível auto-incriminação. "Pudemos então dizer a Monica que eles estavam interessados na verdade e que garantiram que ela seria protegida", conta Cacheris. Starr propôs que se encontrassem no apartamento de sua sogra, em Nova York. Era a hora de abrir as cortinas.
O encontro começou às 10h15. Para deixar Monica à vontade, os advogados fizeram com que ela contasse sua história passo a passo, como se estivessem no tribunal. Foi um relato de 35 minutos, direto e imparcial, porém tocante, que serviu como uma espécie de ensaio para sua aparição diante do júri. Então, de forma alternada, os três advogados da equipe de Starr passaram a fazer perguntas. "O principal era avaliar a credibilidade dela. Foi como dançar um tango: tínhamos de nos assegurar de que ela se sentia à vontade conosco e vice-versa", disse um deles.
Nenhum detalhe foi deixado de fora: quando começou o relacionamento com o presidente Clinton, como terminou, como foi que ela conseguiu o cargo que tinha, quais os papéis desempenhados pela secretária de Clinton, Betty Currie, e pelo amigo do presidente, Vernon Jordan. Por desfrutar de privilégios especiais, nada que Monica dissesse poderia ser usado contra ela. A moça respondeu às perguntas durante várias horas, e os rumores, suspeitas e negativas anteriores acabaram se convertendo num relato claro e consistente. Monica afirmou que houve de fato um relacionamento sexual, mas negou que o presidente tivesse pedido que mentisse. Ele não precisava fazer isso: quando se está tendo um caso com alguém, a pessoa sujeita-se a um mundo de sigilo e dissimulação, que acaba por fazer parte da sua maneira de pensar e agir, sem que haja necessidade de o outro estar sempre repetindo: "Se alguém perguntar alguma coisa, negue". Todas as evasivas traziam o toque clássico de Clinton. O presidente sugeriu de maneira delicada que ela desse fim aos presentes que tinha recebido dele (ninguém pode falar de presentes que não existem). Quando falou sobre Vernon Jordan, Monica disse que não se lembrava de nenhuma conversa em que ele tivesse proposto um emprego em troca de seu silêncio. Ele estava apenas tentando ajudá-la: camaradagem entre amigos do presidente.



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