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OUTRA VISÃO
Para o cientista político argentino Rosendo Fraga, esquerda não ampliará influência na região
Analista vê espaço para autoritarismo
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre
O cientista político argentino
Rosendo Fraga, diretor do Centro
de Estudos União para a Nova
Maioria, disse, em entrevista à
Agência Folha, que não acredita
no crescimento político da esquerda na América Latina.
Analisando as perspectivas eleitorais nos próximos meses, Fraga
diz que há espaço para o autoritarismo, mesmo que com "uma forma democrática". Em todo o continente, o cientista político vê
poucas chances para a "esquerda
como tal". No Brasil, o PT teria,
segundo ele, de se modernizar.
Agência Folha - O sr. acredita
que a esquerda esteja crescendo na América Latina com o espaço deixado por um neoliberalismo em crise?
Rosendo Fraga - Acredito que a
esquerda, como tal, não está crescendo na América Latina. Se tomamos as cinco eleições presidenciais que terão lugar na região
entre outubro de 1999 e julho de
2000, vemos que não se registra
um avanço significativo da esquerda. Na Argentina, está ganhando, segundo pesquisas, De la
Rúa (Fernando de la Rúa, candidato da aliança oposicionista
UCR-Frepaso), que, apesar de
apoiado pela centro-esquerda, é
um candidato conservador.
No Uruguai, as pesquisas mostram que, no segundo turno, impõe-se Jorge Battle, que é um candidato liberal-conservador. Acho
que a Frente Ampla (de esquerda)
pode obter o primeiro lugar no
primeiro turno, mas será derrotada no segundo, por uma coalizão
entre blancos e colorados.
No Chile, ganha o candidato socialista (Lagos), mas a partir de
uma aliança com a democracia
cristã. No Peru, onde a eleição
ocorrerá em abril, o presidente
Alberto Fujimori está em primeiro lugar nas pesquisas.
No México, onde as eleições serão em julho, o PRD, que representa a centro-esquerda, acaba de
acertar uma aliança eleitoral com
o PAN ( centro-direita).
Agência Folha - O neoliberalismo corre riscos de desgaste em
países como Brasil e Argentina,
que lideram o Mercosul?
Fraga - Penso que o neoliberalismo não corre ricos no Brasil e
na Argentina no curto e médio
prazo. O presidente Fernando
Henrique Cardoso dificilmente
abandonará o caminho que tomou, apesar das dificuldades.
Na Argentina, nem De la Rúa
nem o candidato do peronismo,
Eduardo Duhalde, parecem dispostos a abandonar esse caminho, apesar das recentes declarações deste último sobre a dívida
externa (falando em suspensão
temporária do pagamento).
Agência Folha - O sr. crê que o
autoritarismo pode crescer?
Fraga - Creio que há espaço para isso, ainda que mantendo certa
forma democrática. Alberto Fujimori, no Peru, e Hugo Chávez, na
Venezuela, são formas semi-autoritárias de exercer o poder dentro
da formalidade democrática.
Agência Folha - Hugo Chávez
tem algumas atitudes de esquerda ao combater o atual modelo econômico hegemônico na
América Latina...
Fraga - Chávez é um populista
nacionalista. Só pode ser definido
como de esquerda em termos
econômicos, mas não políticos.
Agência Folha - A Aliança UCR-Frepaso (que é de oposição e
tem boas chances de vencer a
eleição argentina) não seria
uma nova forma de esquerda?
Fraga - A Aliança UCR-Frepaso
é uma expressão latino-americana da Terceira Via européia, que,
sem modificar o modelo econômico, pretende introduzir leves
modificações políticas e sociais.
Agência Folha - "Chacho" Alvarez e Graciela Fernández Meijide (da Frepaso, que integra
com a UCR de De la Rúa a aliança oposicionista argentina) se
destacarão no futuro?
Fraga - "Chacho" Alvarez terá
importância como vice-presidente (é o candidato a vice de De la
Rúa) se a Aliança ganhar. Penso
que será um vice-presidente com
um poder maior que o habitual.
Quanto a Fernández Meijide, se
ganha a eleição na Província de
Buenos Aires (é a candidata ao
governo pela Aliança, depois de
ter sido derrotada por De la Rúa
nas prévias presidenciais), seu
poder será muito relevante. Deixará de ser se ela for derrotada.
Agência Folha - O sr. vê espaço
para o PT ter influência nos países da região?
Fraga - Acho difícil que o PT seja uma alternativa na região com
sua atual linha. As duas derrotas
eleitorais sofridas contra Cardoso
(FHC) o fizeram perder influência regional. Mas, se produzir
uma modernização, como a que
realizou o trabalhismo inglês, pode ter um peso regional maior.
Agência Folha - A atual crise
do Mercosul pode desgastar o
modo hoje dominante de conduzir a política no continente?
Fraga - Acho que uma crise no
Mercosul desgasta a idéia da integração regional, mas não necessariamente a forma de fazer política.
Acredito que o Mercosul sobrevive à atual crise. Os países da região não têm outra forma eficaz
de se inserir na economia globalizada que não seja a da integração.
Agência Folha - Essa crise representa algum tipo de perigo?
Fraga - O que gera perigo é a
ruptura do Mercosul, que seria
uma grave frustração regional e
deixaria a região sem uma via eficaz para integrar-se ao mundo
globalizado. Na Argentina, o consenso a respeito da manutenção
do Mercosul é comum a todas as
forças políticas. Há apenas enfoques diferentes sobre como resolver os problemas.
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