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TERROR NA RÚSSIA
Manifestação após ataque a escola reúne 100 mil em Moscou; TVs oficiais participaram da mobilização
Kremlin estimula protesto contra terror
DA REDAÇÃO
Estimuladas por entidades ligadas ao presidente Vladimir Putin
e pela Prefeitura de Moscou, cerca
de 100 mil pessoas, entristecidas e
revoltadas, participaram ontem
nas imediações da praça Vermelha de manifestação contra o terrorismo, responsável pelo seqüestro de cerca de 1.200 pessoas numa escola da Ossétia do Norte.
O seqüestro terminou na sexta-feira com a intervenção das forças
oficiais. Morreram 366 pessoas,
segundo as últimas cifras do governo. Entre elas, 156 crianças e 31
terroristas. Não foram identificados 107 cadáveres, e há 332 pessoas ainda hospitalizadas.
Putin procurou, com a manifestação de ontem, fornecer da Rússia uma imagem unitária. "Não
entregaremos o país aos terroristas", "O inimigo será esmagado",
diziam alguns dos cartazes carregados por manifestantes, cercados por forte dispositivo policial.
O ato público foi precedido de
intensa propaganda nas emissoras do governo, sobretudo na
NTV, controlada pela Gazprom,
estatal da exploração de gás.
Segundo a Associated Press,
atores e atrizes foram escalados
para convidar a população a uma
manifestação na qual foram tolerados saudosistas da extinta
União Soviética, que agitavam
bandeiras com a foice e o martelo.
A Prefeitura de Moscou acionou sua máquina para o sucesso
do ato público. "Moscovitas, nós
não somos frouxos, somos mais
fortes do que eles [os terroristas]",
disse o prefeito Yuri Luzkov.
A Associated Press cita um estudante, Alexander, 18, presente na
praça Vermelha porque "não somos indiferentes aos atentados
terroristas". Mesmo assim, disse
ele, "sabemos que isso foi organizado pelas autoridades".
A agência Reuters cita políticos
da oposição, para os quais a manifestação procurou eclipsar as críticas que o Kremlin vem recebendo, em razão do malogro da política de Putin na Tchetchênia e de
sua incapacidade dar aos russos
melhor segurança.
Essas críticas estão cada vez
mais abafadas pelo oficialismo da
mídia. Ontem, entidades estrangeiras voltaram a criticar Putin e
seu governo.
A ONG Repórteres sem Fronteiras, baseada na França, e o Comitê
para a Proteção de Jornalistas, de
Nova York, exigiram inquérito
sobre as circunstâncias que levaram à tentativa de envenenamento, na semana passada, de Anna
Politkovskaya, especialista em
Tchetchênia na "Novaya Gazeta".
Há no mínimo três outros jornalistas presos: Andrei Babitsky,
russo a serviço da rádio Liberty,
dos EUA, e dois repórteres georgianos, detidos desde sábado ao
se aproximarem de Beslan.
Pesquisa citada pela Reuters revela que 54% dos russos acreditam que os serviços de segurança
sejam corruptos, enquanto 23%
os consideram incompetentes.
Segundo a France Presse, dois
dos seqüestradores de Beslan tinham sido presos por suspeita de
terrorismo e em seguida libertados. São eles Janpachi Kulayev e
Mayerbeck Chaybekjanov.
Em Vladikavkaz, capital da Ossétia do Norte, um cartaz transportado numa passeata que reuniu 2.000 pessoas dizia: "A corrupção é causa do terrorismo".
Mesmo assim, os moscovitas
davam aos jornalistas declarações
com sentimentos de temor e revolta. Acreditavam, como herança do período soviético, de que só
um governo fortalecido pode derrotar os terroristas tchetchenos.
"Deveríamos reagir como os espanhóis, que saíram às ruas espontaneamente e não esperaram
que o governo os convocasse",
disse Natalia Soljenitzyn, mulher
do ex-dissidente e Prêmio Nobel
Alexander Soljenitzyn.
Enquanto isso, em Beslan, prosseguiam pelo terceiro dia os sepultamentos no pequeno cemitério local. Rada Solkazanova, 4, e
sua mãe, Larissa, foram sepultadas na mesma cova. Não longe
dali, era enterrado Vasily Reshetnyak, 8. Em seu caixão, familiares colocaram seu brinquedo
preferido, um carrinho vermelho.
CNBB e ajuda humanitária
Os EUA enviaram ontem à Ossétia do Norte dois aviões C-130,
baseados na Alemanha, com ajuda médica à região.
Em Brasília, a CNBB encaminhou nota à embaixada russa, na
qual exprime sua "profunda desaprovação pelo massacre de centenas de vidas humanas inocentes".
Com agências internacionais
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