São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004

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MULTIMÍDIA

Le Monde - de Paris

Os porquês do apoio incondicional do Ocidente a Vladimir Putin

FRANÇA - O que leva as nações ocidentais a apoiarem o presidente da Rússia, Vladimir Putin, com tanto ardor? Problemas sobre a política russa no Cáucaso são descartados em nome de uma solidariedade muda. O ministro holandês do Exterior, Bertrand Bot, perguntou se a operação na escola de Beslan, com seus mais de 350 mortos, não mereceria explicações das autoridades russas. Mas em seguida recuou sob pressão de Moscou e de seus colegas da União Européia.
A "Realpolitik" que leva o Ocidente a se abster de críticas ao senhor do Kremlin parte do pressuposto de que a Rússia permanece poderosa. Ela perdeu sua força demográfica. Sua economia equivale hoje à da Holanda. Mas ela tem armas atômicas e poder de veto no Conselho de Segurança.
O segundo atrativo russo é energético. Rica em petróleo e em gás, a Rússia se tornou o primeiro produtor mundial de combustíveis, na frente da Arábia Saudita. Para China, Japão e para a Ásia como um todo, suas reservas são agora essenciais. Para os europeus, é uma energia mais acessível que a do Oriente Médio. Para os Estados Unidos, ela está distante, mas corresponde a uma reserva confiável em caso de instabilidade no Oriente Médio.
Vladimir Putin sabe disso e está reestatizando o setor, além de construir dutos na direção dessas três zonas de compradores.
O terceiro motivo do apoio ocidental está na história e na geografia. Diplomatas ocidentais sempre preferiram apoiar um governo capaz de controlar esse vasto espaço euro-asiático.
É o caso do caldeirão do Cáucaso. Não que Washington, Paris e Londres tenham evitado a tentação de estimular as minorias para enfraquecer Moscou. Mas o 11 de Setembro e o radicalismo islâmico construíram uma solidariedade à "guerra ao terrorismo".
Ao assimilar separatistas tchetchenos aos islâmicos, Putin encontrou o argumento de que precisava para prosseguir com a guerra na Província.
Considerações geopolíticas, petrodólares e solidariedade contra o "inimigo" dão carta branca ao Kremlin. Depois da tomada de reféns em Beslan, Putin não tem nenhuma dúvida sobre a correção de sua política tchetchena.
Aos que esperavam uma abertura ao diálogo, ele fecha as portas e anuncia "novos métodos", cuja brutalidade poderemos infelizmente imaginar. A pergunta é, então, a seguinte: até quando as diplomacias ocidentais estarão predispostas a apoiá-lo?


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