São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

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ÚLTIMA PARADA

Local abriga pessoas detidas desde a passagem do Katrina; maioria é acusada de saques

Terminal de ônibus vira cadeia provisória

ALEX BERENSON
DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA ORLEANS

A cidade está sem postos de combustível, armazéns, entrega de correios e hospitais. Está quase sem população também. Mas ela tem cadeia. Com todas as principais prisões de Nova Orleans e redondezas fechadas em razão da inundação, uma cadeia provisória foi aberta no terminal de ônibus de turismo perto do centro da cidade.
A cadeia vai abrigar os acusados de saques e outras pessoas detidas em Nova Orleans e cidades vizinhas, mantendo-as detidas até que possam ser enviadas a um centro correcional estadual em St. Gabriel, 110 km a noroeste da cidade. Ali elas serão acusadas formalmente e terão a oportunidade de sair sob fiança.
"A cadeia é o início da reconstrução da cidade", disse Burl Cain, o diretor do presídio estadual de Angola, no leste do Louisiana. As autoridades estaduais e locais cooperaram para a criação da cadeia no terminal. O xerife da paróquia (bairro) de Orleans, Marlin Gusman, comanda a cadeia, mas o quadro de funcionários é composto principalmente por carcereiros emprestados do presídio de Angola e por voluntários do Kentucky.
A prisão principal de Orleans, uma área do tamanho do condado que engloba a cidade de Nova Orleans, continua debaixo d'água. Os 6.000 detentos que ocupavam várias cadeias estaduais e locais no momento da passagem do Katrina foram removidos para fora da cidade, disse o xerife Gusman. A cadeia temporária é o lugar para onde a polícia leva as pessoas que está prendendo agora, disse ele.
Do lado de dentro, a cadeia não tem muita aparência de cadeia, e sim de estação de ônibus. Os presos são fotografados e têm suas impressões digitais tiradas, então são transferidos para pequenos cercados fechados com arame farpado erguidos na área atrás do terminal. Atrás do balcão de passagens, médicos aguardam para cuidar de presos ou guardas feridos. Uma pequena placa escrita à mão diz "bem-vindos ao novo Angola Sul".
Na segunda-feira a situação no interior da cadeia era de tanto calor e umidade quanto no resto de Nova Orleans, apesar dos ventiladores ligados enquanto os presos eram "processados" pelos funcionários.

Lotação
A cadeia temporária tem 16 cercados, cada um com espaço para 40 presos e vigiado por um punhado de guardas armados. Na noite de segunda-feira os cercados estavam quase todos vazios, com menos de cem presos divididos entre cinco cercados, três para mulheres e dois para homens. Autoridades locais disseram na terça que 150 pessoas foram detidas nos últimos dias.
A polícia de Nova Orleans ainda concentra sua atenção nas missões de resgate e de patrulhamento das ruas. Ela está fazendo poucas prisões, de modo que a maioria dos presos vinha da paróquia (bairro) Jefferson, a oeste de Nova Orleans. Segundo o xerife Gusman, eles tinham sido detidos por vários delitos relacionados a saques.
A maioria dos presos se disse satisfeita com as condições do local, mas afirmou estar revoltada por não poder dar telefonemas. Vários deles pediram ao repórter que avisasse a seus pais que estavam vivos e disseram não saber como reconstruir suas vidas quando forem soltos.


Tradução de Clara Allain


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