São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2000

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Revolução teve um líder avesso a revoluções

CLAIRE TRÉAN
DO "LE MONDE"

Vojislav Kostunica não era líder de nenhum partido nem fazia parte da cena política iugoslava, mas os movimentos de oposição do país o escolheram, em julho passado, para ser seu candidato na eleição presidencial.
Seu nome foi o preferido justamente porque ele não havia participado das disputas internas dos partidos de oposição nem tinha se comprometido com o regime de Slobodan Milosevic.
Kostunica é um advogado que já foi contra o comunismo, mas que mantém um discurso suficientemente nacionalista para atrair os eleitores iugoslavos. Também é um homem livre de suspeitas de ser um títere nas mãos dos norte-americanos, acusação que pesa sobre Zoran Djindjic, o ex-líder oposicionista que é considerado pró-Ocidente em excesso.
No exterior, Kostunica era praticamente desconhecido, mas apresentava garantias suficientes para receber apoio incondicional da comunidade internacional. Sua maior conquista, porém, havia sido unir a oposição em torno de seu nome.
Kostunica não é um revolucionário, e, se a contestação popular que ele orquestrava se transformou em insurreição na última quinta, isso ocorreu porque a população já se sentia suficientemente segura de si para fazê-lo, não por influência do presidente eleito.
Kostunica não escolheu o caminho da subversão, e seu apelo à desobediência civil foi feito em nome do direito e da justiça. Afinal, ele conseguiu obter provas de sua vitória no primeiro turno e prometeu recorrer a todas as esferas da Justiça iugoslava para garanti-la.
Esse respeito autêntico pela legalidade parece ter suscitado esperança e confiança num país no qual Milosevic cansou de mudar ou suprimir leis e de fazer uso das instituições de acordo com suas necessidades.



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