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Revolução teve um líder avesso a revoluções
CLAIRE TRÉAN
DO "LE MONDE"
Vojislav Kostunica não era
líder de nenhum partido
nem fazia parte da cena política iugoslava, mas os movimentos de oposição do país
o escolheram, em julho passado, para ser seu candidato
na eleição presidencial.
Seu nome foi o preferido
justamente porque ele não
havia participado das disputas internas dos partidos de
oposição nem tinha se comprometido com o regime de
Slobodan Milosevic.
Kostunica é um advogado
que já foi contra o comunismo, mas que mantém um
discurso suficientemente
nacionalista para atrair os
eleitores iugoslavos. Também é um homem livre de
suspeitas de ser um títere nas
mãos dos norte-americanos,
acusação que pesa sobre Zoran Djindjic, o ex-líder oposicionista que é considerado
pró-Ocidente em excesso.
No exterior, Kostunica era
praticamente desconhecido,
mas apresentava garantias
suficientes para receber
apoio incondicional da comunidade internacional.
Sua maior conquista, porém, havia sido unir a oposição em torno de seu nome.
Kostunica não é um revolucionário, e, se a contestação popular que ele orquestrava se transformou em insurreição na última quinta,
isso ocorreu porque a população já se sentia suficientemente segura de si para fazê-lo, não por influência do
presidente eleito.
Kostunica não escolheu o
caminho da subversão, e seu
apelo à desobediência civil
foi feito em nome do direito
e da justiça. Afinal, ele conseguiu obter provas de sua
vitória no primeiro turno e
prometeu recorrer a todas as
esferas da Justiça iugoslava
para garanti-la.
Esse respeito autêntico pela legalidade parece ter suscitado esperança e confiança
num país no qual Milosevic
cansou de mudar ou suprimir leis e de fazer uso das
instituições de acordo com
suas necessidades.
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