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Ataques aéreos não intimidam Taleban, diz analista
MÁRCIA DETONI
DA REPORTAGEM LOCAL
O bombardeio americano é apenas uma demonstração de força e
determinação dos EUA e não intimida o Taleban, afirma o coronel
da reserva Geraldo Cavagnari, 67,
coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. Segundo ele, as milícias Taleban já
enfrentaram, no passado, todo o
tipo de bombardeio possível e só
podem ser derrotadas por terra.
Cavagnari acha que a guerra
contra o Taleban, um inimigo resistente, com soldados dedicados,
será bem mais longa e terá muito
mais baixas para os EUA que a
Guerra do Golfo, cujos combates
duraram um mês e meio.
Folha - Ataques aéreos contra
centros de treinamento e bases militares do Taleban podem, por si só,
enfraquecer o grupo?
Geraldo Cavagnari - Não. O Taleban, para ser derrotado, precisa
ter sua milícia destruída, e isso requer ação terrestre. Esta operação
que está sendo realizada, agora,
tem mais um significado de demonstração de força. Mostra a determinação dos EUA e do Reino
Unido de desestabilizar o governo
do Taleban se ele não entregar
Osama bin Laden. Ela intimida,
de certo modo, a população e leva
a um aumento do número de refugiados, o que cria problemas na
fronteira com o Paquistão. Agora,
intimidar a milícia Taleban, esses
ataques aéreos não intimidam.
Folha - Por quê?
Cavagnari - Porque as milícias
do Taleban já estão há 20 anos em
guerra. Elas já sofreram todo o tipo de bombardeio possível, inclusive os lançados pela antiga União
Soviética, e não cederam, resistiram ao máximo. Obviamente elas
vão resistir novamente até não ter
mais fôlego.
Folha - Tratando-se de um país
muito montanhoso e inóspito, pode-se esperar sucesso numa campanha por terra ou os americanos
podem enfrentar as mesmas dificuldades das forças soviéticas durante a ocupação, nos anos 80?
Cavagnari - Os EUA podem ter
sucesso. No caso da União Soviética, não havia uma resistência interna à guerrilha que lutava contra a ocupação, como existe agora
em relação ao Taleban. Além disso, durante a ocupação, os soviéticos não foram capazes de realizar
um cerco, no sentido literal, que
impedisse ou dificultasse um
apoio externo significativo aos
guerrilheiros. Esse apoio externo
ocorreu e foi sustentado pelos
EUA. Foi isso que permitiu que a
guerrilha, de modo geral, tivesse
fôlego suficiente para sustentar
uma resistência continuada contra a ocupação soviética e vir a ser
bem-sucedida.
No caso atual, os EUA estão sendo bem-sucedidos no isolamento
diplomático do Afeganistão, e isso é importante. Os EUA também
estão sendo bem-sucedidos no
cerco do território afegão, de maneira a impedir ou dificultar um
apoio tão significativo quanto
aquele que ele próprio prestou
aos guerrilheiros que combatiam
os soviéticos. Isso quer dizer que a
milícia Taleban não terá fôlego
suficiente para resistir às ações
desencadeadas pelos EUA e, posteriormente, a uma ocupação do
território afegão por forças americanas e britânicas.
Folha - Uma aliança com os oponentes afegãos do Taleban que lutam no norte do país é importante
para a vitória americana?
Cavagnari - Os EUA vão precisar
do apoio da Aliança do Norte,
porque, à medida em que aliança
avança, ela vai retirando território
que era dominado pelo Taleban e
diminuindo o espaço de manobra
do grupo. Mas, se os americanos
vão desestabilizar o Taleban, eles
têm de criar uma alternativa de
poder. Só que essa alternativa de
poder não é necessariamente
oriunda da Aliança do Norte,
apoiada pelas minorias étnicas.
Terão de ser consideradas todas
as etnias, inclusive a Pashtu (do
Taleban), que é a etnia dominante
e que, obviamente, terá de ter
uma presença mais significativa
que as etnias da Aliança do Norte.
Folha - O Taleban é um inimigo
perigoso para os EUA?
Cavagnari - Ele é perigoso não só
para os EUA, mas também para a
Rússia e as ex-Repúblicas soviéticas, porque esses países têm territórios de maioria muçulmana, e o
Taleban leva a bandeira do extremismo muçulmano. Ele é altamente subversivo e desestabilizador.
Folha - O sr. espera que este conflito seja resolvido rapidamente?
Cavagnari - É difícil prever se será uma guerra prolongada ou
não. Mas uma coisa se pode dizer
de imediato: será uma guerra de
duração maior que a do Golfo e,
com certeza, terá um maior número de vítimas do lado americano do que na Guerra do Golfo.
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