São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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"Riscos da falta de ação são maiores", diz Blair

ROGÉRIO SIMÕES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, confirmou ontem que submarinos britânicos baseados no golfo Pérsico foram utilizados para o lançamento de mísseis Tomahawk no ataque iniciado contra o Afeganistão. Blair disse ainda que, nos próximos dias, aviões britânicos passarão a ser usados na operação. A base britânica na ilha de Diego Garcia, no oceano Índico, também será utilizada.
Em um pronunciamento na sede do governo, em Downing Street, o premiê disse que a ação militar era arriscada, mas que "os riscos da falta de ação são muito, muito maiores". Blair afirmou que nenhuma nação envolvida na retaliação queria entrar em guerra. "Nós só estamos fazendo isso porque essa causa é justa", afirmou. "Nós não descansaremos enquanto todos os nossos objetivos não forem atingidos totalmente." O Ministério da Defesa confirmou que três submarinos britânicos -Trafalgar, Triumph e Superb- participaram da operação.
O chefe de governo britânico convocou o Parlamento, que está em recesso, para uma sessão de emergência hoje à noite.
Na sessão, Blair deverá receber novamente o apoio da oposição. Logo após o início dos ataques contra o Afeganistão, o líder do Partido Conservador, Lain Duncan-Smith, disse que apoiava a operação. Em seu pronunciamento, o premiê também fez questão de dizer que não estava sozinho na Europa em seu apoio incondicional a Washington. Ele disse que França e Alemanha, além do Canadá e da Austrália, ofereceram-se para tomar parte na operação.
O governo britânico continua insistindo que os esforços da coalizão antiterrorismo não ficarão restritos ao campo militar. Segundo Blair, as operações diplomáticas e humanitárias continuarão paralelamente.
O premiê também mostrou preocupação com o perigo da morte de civis. "Nós faremos tudo o que for humanamente possível para evitar a morte de civis."
Blair falou da preocupação em interromper o enorme fluxo de refugiados que têm deixado o Afeganistão. "Precisamos dar estabilidade às pessoas daquela região, para que elas fiquem naquela região."
Além dos três submarinos nucleares na região, o Reino Unido possui 15 caças a bordo do porta-aviões Illustrious e 20 baseados em Omã e Kuait, além de outros posicionados na Arábia Saudita.

Apoio público
Analistas políticos britânicos disseram ontem que Blair é um político que se sente bastante estimulado a atuar em crises internacionais, como já havia mostrado na campanha da Otan contra a Iugoslávia na Guerra de Kosovo (1999).
Na época, aliados políticos disseram que ele poderia arriscar sua carreira política se soldados britânicos morressem nas operações, o que não ocorreu.
Assessores disseram que a intenção de Blair em seu pronunciamento ontem era preparar o país para uma longa batalha.
"Não há dúvida de que ele se mostrou à altura do desafio de forma brilhante", disse o colunista político Andrew Rawnsley, autor de livro sobre o premiê trabalhista. Pesquisas mostram que mais de 70% da população aprova britânica a atuação de Blair na atual crise.
O apoio público pode começar a diminuir caso as ações militares não tragam resultados ou causem a morte de civis. Dezenas de pessoas se manifestaram diante da sede do governo ontem contra a guerra e pedindo que o dinheiro gasto na operação militar seja usado em benefício da população britânica de baixa renda.
O apoio também pode diminuir caso os terroristas realizem um atentado no Reino Unido, já que o país é o maior aliado dos EUA.
"A mais visível realização de Blair tem sido seu brilhantismo como comandante-em-chefe da opinião pública", disse Rawnsley à agência de notícias "Reuters".


Com agências internacionais



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