São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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Rússia foi uma das primeiras a saber da ação

JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nas primeiras conversas com outros países sobre o ataque ao Afeganistão, o presidente George W. Bush procurou interlocutores entre seus tradicionais aliados, como Canadá e Alemanha, e entre países considerados essenciais no caso, como Rússia e Uzbequistão.
Ao colocar o presidente russo, Vladimir Putin, entre os primeiros da lista a serem informados dos planos da Casa Branca, George W. Bush intensifica uma aproximação que muda a qualidade das relações bilaterais. No começo deste ano, o relacionamento entre Washington e Moscou parecia reviver a Guerra Fria.
A administração republicana trazia de volta antigas desconfianças em relação ao Kremlin, e George W. Bush, a idéia de um novo escudo antimísseis, que ignora o Tratado Antimísseis Balísticos assinado em 1972 por Moscou e por Washington.
Para a Rússia, o projeto despontava como parte da estratégia de consolidar a superioridade militar dos Estados Unidos. As diferenças levaram Washington e Moscou a expulsar supostos espiões.
Mas, já no fim do primeiro semestre, a belicosidade inicial começou a dar lugar a uma aproximação. Em junho, Bush e Putin trocaram elogios, numa mudança que se acentuou nas últimas semanas.
Bush percebeu que poderia precisar da Rússia para conseguir apoio europeu ao escudo antimísseis e para enfrentar um desafio mais espinhoso: a China. Seus sinais positivos para Moscou foram respondidos por Putin, que abandonou o nacionalismo por uma abordagem mais pragmática. Ele avaliou que as relações com Washington poderiam trazer mais dividendos econômicos do que uma confrontação.
A crise atual tornou a Rússia ainda mais valiosa aos EUA, pois Moscou é uma potência regional no palco do conflito. Três países na fronteira com o Afeganistão (Turcomenistão, Uzbequistão e Tadjiquistão) integravam a URSS e ainda mantêm laços importantes com o Kremlin.
A Rússia também conhece bem a realidade afegã. Moscou, sob o regime soviético, invadiu o Afeganistão (1979-89).
Moscou, depois de uma hesitação inicial, acabou embarcando na coalizão antiterror, embora tenha anunciado que não deve enviar tropas. Mas Putin disse que as "posições russas poderiam ser revistas", o que pode ser uma porta aberta a um maior envolvimento do Kremlin na ofensiva.
Já a China prefere manter papel mais discreto na crise. Um porta-voz do governo afirmou ontem que o país "estimula e apóia a luta contra o terrorismo", mas enfatizou a necessidade de os ataques "visarem objetivos específicos, a fim de evitar atingir civis inocentes".
Bush não colocou a China na lista de nações iniciais a informar ontem sobre a estratégia norte-americana, mas o país, de grande peso geopolítico, não vai ser descartado.


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