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COMENTÁRIO
Rússia sugere que pode se envolver mais
JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Nas primeiras conversas com
outros países sobre o ataque ao
Afeganistão, o presidente George
W. Bush procurou interlocutores
entre seus tradicionais aliados,
como Canadá e Alemanha, e entre países considerados essenciais
no caso, como Rússia e Uzbequistão.
Ao colocar o presidente russo,
Vladimir Putin, entre os primeiros da lista a serem informados
dos planos da Casa Branca, Bush
intensifica uma aproximação que
muda a qualidade das relações bilaterais.
No começo deste ano, o relacionamento entre Washington e
Moscou parecia reviver a Guerra
Fria.
A administração republicana
trazia de volta antigas desconfianças em relação ao Kremlin, e
Bush, a idéia de um novo escudo
antimísseis, que ignora o Tratado
Antimísseis Balísticos assinado
em 1972 por Moscou e por Washington.
Para a Rússia, o projeto despontava como parte da estratégia de
consolidar a superioridade militar dos Estados Unidos. As diferenças levaram Washington e
Moscou a expulsar supostos espiões.
Mas, já no fim do primeiro semestre, a belicosidade inicial começou a dar lugar a uma aproximação. Em junho, Bush e Putin
trocaram elogios, numa mudança
que se acentuou nas últimas semanas.
Bush percebeu que poderia precisar da Rússia para conseguir
apoio europeu ao escudo antimísseis e para enfrentar um desafio
mais espinhoso: a China.
Seus sinais positivos para Moscou foram respondidos por Putin,
que abandonou o nacionalismo
por uma abordagem mais pragmática. Ele avaliou que as relações
com Washington poderiam trazer mais dividendos econômicos
do que uma confrontação.
A crise atual tornou a Rússia
ainda mais valiosa aos EUA, pois
Moscou é uma potência regional
no palco do conflito. Três países
na fronteira com o Afeganistão
(Turcomenistão, Uzbequistão e
Tadjiquistão) integravam a União
Soviética e ainda mantêm laços
importantes com o Kremlin.
A Rússia também conhece bem
a realidade afegã. Moscou, sob o
regime soviético, invadiu o Afeganistão (1979-89).
O Kremlin, depois de uma hesitação inicial, acabou embarcando
na coalizão antiterror, embora tenha anunciado que não deve enviar tropas.
Mas Putin disse que as "posições russas poderiam ser revistas", o que pode ser uma porta
aberta a um maior envolvimento
da Rússia na ofensiva.
Já a China prefere manter papel
mais discreto na crise. Um porta-voz do governo afirmou ontem
que o país "estimula e apóia a luta
contra o terrorismo", mas enfatizou a necessidade de os ataques
"visarem objetivos específicos, a
fim de evitar atingir civis inocentes".
Bush não colocou a China na lista de nações a serem informadas
primeiro, ontem, sobre a estratégia norte- americana, mas o país,
de grande peso geopolítico, não
vai ser descartado.
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