São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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EUROPA

Para Bertrand Delanoë, o maior desafio para a social-democracia européia é aplicar políticas sociais e ser responsável nos gastos

Prefeito de Paris cobra parcimônia e união da esquerda

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O grande desafio atual para a esquerda social-democrata européia é, ao mesmo tempo, aplicar políticas de cunho social e ser responsável no que tange às contas públicas, de acordo com Bertrand Delanoë, prefeito socialista de Paris e um dos maiores nomes da esquerda européia atualmente.
"Devemos ser social-democratas responsáveis. Não nego que a esquerda européia enfrente dificuldades. Seu grande desafio é ser, ao mesmo tempo, de esquerda, privilegiando políticas sociais e de inserção dos menos abastados e buscando mudanças, e responsável no que se refere às contas públicas", explicou à Folha, Delanoë, que participou de evento de prefeitos em São Paulo.
"Querer tudo mudar de um dia para o outro é algo que buscamos quando estamos na oposição. Quando chegamos ao poder, contudo, não podemos fazer nada tão rápido. Mas também não podemos chegar ao poder e só mudar coisas marginais. Isso é muito perigoso porque desagrada ao eleitorado. O desafio da esquerda é o mesmo desde seu nascimento: ser reformista, voluntarista, responsável e autêntica", acrescentou.
Para Delanoë, o maior erro da esquerda européia foi não ter trabalhado em conjunto. "Quando estiver novamente no poder na maioria dos Estados europeus, a esquerda deverá ser muito mais solidária, realizando as reformas em conjunto. É necessário um esforço internacional", apontou.
"As lições dos últimos 15 anos são que a esquerda não foi européia o bastante e que as estruturas de elaboração de políticas sociais na Europa não foram suficientemente federadas. A esquerda deve ser uma força inteligente, cooperativa e estruturada a nível continental", disse o prefeito de Paris.
Devido aos desafios impostos pela globalização e ao envelhecimento da população européia, o Estado do Bem-Estar Social precisa evoluir, porém isso não significa que ele precise dar menos importância à saúde ou à educação, por exemplo, de acordo com ele.
"O Estado do Bem-Estar Social deve adaptar-se. Todavia também devemos trabalhar para globalizar a social-democracia e seus objetivos. Como a escala do mercado é mundial, é, portanto, imprescindível que a democracia e a justiça social sejam tratadas na esfera internacional", afirmou Delanoë.
Para ele, o exemplo do premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, é louvável. "Suas políticas são sociais, mas responsáveis. Devemos manter as especificidades, mas não podemos ter vergonha de aprender com os outros."
"Devemos aprender a tomar iniciativas conjuntas, a pensar juntos no futuro da social-democracia e das sociedades européias. Tenho muita consideração pela experiência espanhola. Devemos aprender com ela", disse Delanoë.
Por outro lado, ele admitiu que discorda da decisão de Tony Blair, premiê trabalhista britânico, de apoiar a invasão do Iraque. "Trata-se de um homem respeitável, mas sua posição não foi de esquerda porque, para nós, só se pode ir a outro país para restabelecer a ordem ou abater uma ditadura sob duas condições: que o objetivo seja baseado no respeito do direito internacional e numa decisão coletiva da ONU."


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