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HOMENAGEM
AIEA e seu chefe, El Baradei, que teve divergências com os EUA, são premiados; Greenpeace critica, e Irã não comenta
Agência atômica da ONU leva Nobel da Paz
DA REDAÇÃO
O Prêmio Nobel da Paz de 2005
foi anunciado ontem para a AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica), responsável dentro
das Nações Unidas pela fiscalização de equipamentos e pelo esforço ao uso pacífico da energia nuclear. Também foi premiado seu
diretor-geral desde 1997, o egípcio
Mohamed El Baradei, 63.
Ele se disse "deleitado" com o
prêmio e afirmou que se sente reforçado no esforço para solucionar duas grandes pendências
atuais de sua agência, a Coréia do
Norte e o Irã, suspeitos de quererem produzir a bomba atômica.
Em entrevista coletiva em Viena, Áustria, sede da AIEA, também disse que o Prêmio Nobel
corresponde a "um forte recado"
de estímulo na prevenção à proliferação da energia nuclear com finalidades não-pacíficas.
A AIEA e seu diretor dividirão
um prêmio em dinheiro de R$ 2,8
milhões, que será entregue, com
medalha e diploma, em Oslo, na
Noruega, em 10 de dezembro. O
Comitê Norueguês do Nobel selecionou os atuais ganhadores de
um número recorde de 199 candidaturas. Segundo o comitê, El Baradei é um "advogado destemido" dos esforços para evitar a proliferação nuclear.
É a 14ª vez, desde 1945, que o
Nobel da Paz é dado a uma agência da ONU ou a alguma personalidade a ela associada.
Em 2001 o escolhido foi o atual
secretário-geral, Kofi Annan. Em
1988 o prêmio foi para as Forças
de Paz da organização internacional, e em 1981 para seu Alto Comissariado para Refugiados.
O governo dos Estados Unidos
deixou de lado suas sucessivas divergências com El Baradei e disse,
por meio da secretária de Estado,
Condoleezza Rice, que o diplomata egípcio mereceu a honra. "Foi
um gesto que instiga à contenção,
por meios diplomáticos, da proliferação nuclear."
O porta-voz da Casa Branca,
Scott McClellan, afirmou que o
comitê do Nobel "reconheceu a
importância de deter a expansão
dos artefatos nucleares".
No final de 2002 a administração Bush se preparava para intervir no Iraque, com base no pressuposto, que se sabe hoje infundado, de que o então ditador, Saddam Hussein, possuía um programa nuclear clandestino para produzir a bomba atômica. A AIEA
defendia o prosseguimento das
inspeções, em buscas de pistas
que seus técnicos viam como
pouco consistentes.
No início deste ano a delegação
americana, a mais poderosa entre
as 35 que integram o conselho de
governadores da agência, movimentou-se para que El Baradei
não obtivesse um terceiro mandato como diretor-geral. Argumentava que ele não era duro o bastante com o Irã e com a Coréia do
Norte. Mas o consenso que ele
costurou, sobretudo entre as delegações européias, levou Washington a apoiá-lo em junho último.
Especialistas em Nobel da Paz
não se surpreenderam com o prêmio deste ano, já que se comemora o 60º aniversário das bombas
de Hiroshima e Nagasaki.
No Irã, alvo das pressões da
AIEA, Hamid Reza Asefi, porta-voz do Ministério das Relações
Exteriores, disse não ter "nenhum
comentário a fazer sobre isso".
Os ambientalistas do Greenpeace se disseram "chocados" com a
escolha. O grupo, que tem suspeitas sobre o emprego da energia
nuclear sob qualquer uma de suas
formas, disse que a AIEA aumentou o risco da proliferação. "O significado desse instrumento para a
promoção da paz está seriamente
colocado em xeque", disse Jan
van de Putte, um dos porta-vozes
da entidade ambientalista.
O presidente francês, Jacques
Chirac, declarou-se "muitíssimo
satisfeito" pela premiação de uma
entidade e de seu diretor que têm
dado "uma contribuição fundamental nos esforços pela estabilidade, segurança e paz".
O premiê britânico, Tony Blair,
disse que o prêmio "foi muito
bem merecido" e é uma forma de
reconhecimento da agência.
Hans Blix, que chefiou as equipes de inspeção das Nações Unidas no Iraque antes da invasão
americana, disse que o prêmio
"sublinha o papel da AIEA e fortalece o papel de El Baradei".
A porta-voz da Comissão Européia, Pia Ahrenkilde Hanse, disse
que o trabalho de El Baradei e da
AIEA exemplificam de modo positivo "o valor da cooperação
multilateral num dos maiores desafios" hoje enfrentados.
Em Brasília, nota do chanceler
Celso Amorim congratula a agência e seu diretor pelo "excelente
trabalho" desempenhado "no
campo da não-proliferação nuclear e dos usos pacíficos da energia nuclear". E reafirma que o
Brasil divide suas preocupações.
Com agências internacionais
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