São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005

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HOMENAGEM

AIEA e seu chefe, El Baradei, que teve divergências com os EUA, são premiados; Greenpeace critica, e Irã não comenta

Agência atômica da ONU leva Nobel da Paz

DA REDAÇÃO

O Prêmio Nobel da Paz de 2005 foi anunciado ontem para a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), responsável dentro das Nações Unidas pela fiscalização de equipamentos e pelo esforço ao uso pacífico da energia nuclear. Também foi premiado seu diretor-geral desde 1997, o egípcio Mohamed El Baradei, 63.
Ele se disse "deleitado" com o prêmio e afirmou que se sente reforçado no esforço para solucionar duas grandes pendências atuais de sua agência, a Coréia do Norte e o Irã, suspeitos de quererem produzir a bomba atômica.
Em entrevista coletiva em Viena, Áustria, sede da AIEA, também disse que o Prêmio Nobel corresponde a "um forte recado" de estímulo na prevenção à proliferação da energia nuclear com finalidades não-pacíficas.
A AIEA e seu diretor dividirão um prêmio em dinheiro de R$ 2,8 milhões, que será entregue, com medalha e diploma, em Oslo, na Noruega, em 10 de dezembro. O Comitê Norueguês do Nobel selecionou os atuais ganhadores de um número recorde de 199 candidaturas. Segundo o comitê, El Baradei é um "advogado destemido" dos esforços para evitar a proliferação nuclear.
É a 14ª vez, desde 1945, que o Nobel da Paz é dado a uma agência da ONU ou a alguma personalidade a ela associada.
Em 2001 o escolhido foi o atual secretário-geral, Kofi Annan. Em 1988 o prêmio foi para as Forças de Paz da organização internacional, e em 1981 para seu Alto Comissariado para Refugiados.
O governo dos Estados Unidos deixou de lado suas sucessivas divergências com El Baradei e disse, por meio da secretária de Estado, Condoleezza Rice, que o diplomata egípcio mereceu a honra. "Foi um gesto que instiga à contenção, por meios diplomáticos, da proliferação nuclear."
O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, afirmou que o comitê do Nobel "reconheceu a importância de deter a expansão dos artefatos nucleares".
No final de 2002 a administração Bush se preparava para intervir no Iraque, com base no pressuposto, que se sabe hoje infundado, de que o então ditador, Saddam Hussein, possuía um programa nuclear clandestino para produzir a bomba atômica. A AIEA defendia o prosseguimento das inspeções, em buscas de pistas que seus técnicos viam como pouco consistentes.
No início deste ano a delegação americana, a mais poderosa entre as 35 que integram o conselho de governadores da agência, movimentou-se para que El Baradei não obtivesse um terceiro mandato como diretor-geral. Argumentava que ele não era duro o bastante com o Irã e com a Coréia do Norte. Mas o consenso que ele costurou, sobretudo entre as delegações européias, levou Washington a apoiá-lo em junho último.
Especialistas em Nobel da Paz não se surpreenderam com o prêmio deste ano, já que se comemora o 60º aniversário das bombas de Hiroshima e Nagasaki.
No Irã, alvo das pressões da AIEA, Hamid Reza Asefi, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse não ter "nenhum comentário a fazer sobre isso".
Os ambientalistas do Greenpeace se disseram "chocados" com a escolha. O grupo, que tem suspeitas sobre o emprego da energia nuclear sob qualquer uma de suas formas, disse que a AIEA aumentou o risco da proliferação. "O significado desse instrumento para a promoção da paz está seriamente colocado em xeque", disse Jan van de Putte, um dos porta-vozes da entidade ambientalista.
O presidente francês, Jacques Chirac, declarou-se "muitíssimo satisfeito" pela premiação de uma entidade e de seu diretor que têm dado "uma contribuição fundamental nos esforços pela estabilidade, segurança e paz".
O premiê britânico, Tony Blair, disse que o prêmio "foi muito bem merecido" e é uma forma de reconhecimento da agência.
Hans Blix, que chefiou as equipes de inspeção das Nações Unidas no Iraque antes da invasão americana, disse que o prêmio "sublinha o papel da AIEA e fortalece o papel de El Baradei".
A porta-voz da Comissão Européia, Pia Ahrenkilde Hanse, disse que o trabalho de El Baradei e da AIEA exemplificam de modo positivo "o valor da cooperação multilateral num dos maiores desafios" hoje enfrentados.
Em Brasília, nota do chanceler Celso Amorim congratula a agência e seu diretor pelo "excelente trabalho" desempenhado "no campo da não-proliferação nuclear e dos usos pacíficos da energia nuclear". E reafirma que o Brasil divide suas preocupações.


Com agências internacionais

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