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Prêmio valoriza posição sobre Iraque, diz analista
SHIN OLIVA SUZUKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A posição de Mohamed El Baradei sobre a existência de armas de
destruição em massa no Iraque
-justificativa usada pelos EUA
para invadir o país- foi a razão
mais forte para o comitê do Nobel
premiar o egípcio e a Agência Internacional de Energia Atômica
da ONU, afirma Joseph Cirincione, diretor para não-proliferação
da Carnegie Endowment for International Peace, centro de pesquisas baseado em Washington.
El Baradei, embora sob grande
pressão do governo George W.
Bush à época do início da invasão
norte-americana, sustentou que o
Iraque tinha destruído seu arsenal
nuclear, provocando a ira dos
EUA. "Nós sabemos agora que El
Baradei estava certo e os EUA, errados, não havia a necessidade
alegada para iniciar a guerra", disse Cirincione, que também é professor da Universidade Georgetown, à Folha. "Foi um prêmio
merecido em reconhecimento a
uma voz independente."
Para ele, uma das conseqüências práticas da premiação de El
Baradei será a atenção dada a partir de agora ao trabalho feito pela
agência nuclear, reforçando a posição da AIEA em eventuais disputas com os EUA:
"Eu tenho certeza de que o Nobel não agradou à administração
Bush e concordo que o prêmio
também foi uma afirmação política feita pelo comitê sobre as posições que vêm sendo tomadas pelos EUA, mas não deixa de ser um
reconhecimento ao trabalho de
alguém que adota uma estratégia
em direção à negociação, uma
clara alternativa ao belicismo."
Cirincione diz que "o prêmio
aumentará o poder e o prestígio
de El Baradei e da AIEA, o que favorece o trabalho de ambos em
um ambiente delicado como é o
das negociações sobre a não-proliferação".
Em outra oportunidade, Cirincione ressaltou que o governo
Bush tem adotado nos últimos
meses uma estratégia mais direcionada à mesa de negociações,
dando menos força à opinião dos
"falcões" de Washington: "Condoleezza Rice, quando assumiu o
cargo de secretária de Estado, reconheceu que a política linha dura, visando derrubar governos
não estava funcionando".
"Ela gradualmente alterou a posição da administração e, mais
importante, negou que essa mudança estivesse de fato ocorrendo
para evitar atritos com "falcões"
como o secretário de Defesa Donald Rumsfeld."
Cirincione também avalia que
os rumos do caso do programa
nuclear iraniano, o mais espinhoso no momento para a AIEA,
também dependerá da existência
de evidências de um arsenal nuclear no país. "Sem provas não
haverá como o Irã ser levado ao
Conselho de Segurança da ONU",
onde poderia receber sanções.
Segundo ele, a posição diplomática do Irã vem ganhando força
porque sustenta que há um "apartheid nuclear", em que países menos desenvolvidos não são permitidos a estar equiparados tecnologicamente às grandes potências.
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