São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005

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Prêmio valoriza posição sobre Iraque, diz analista

SHIN OLIVA SUZUKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A posição de Mohamed El Baradei sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque -justificativa usada pelos EUA para invadir o país- foi a razão mais forte para o comitê do Nobel premiar o egípcio e a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, afirma Joseph Cirincione, diretor para não-proliferação da Carnegie Endowment for International Peace, centro de pesquisas baseado em Washington.
El Baradei, embora sob grande pressão do governo George W. Bush à época do início da invasão norte-americana, sustentou que o Iraque tinha destruído seu arsenal nuclear, provocando a ira dos EUA. "Nós sabemos agora que El Baradei estava certo e os EUA, errados, não havia a necessidade alegada para iniciar a guerra", disse Cirincione, que também é professor da Universidade Georgetown, à Folha. "Foi um prêmio merecido em reconhecimento a uma voz independente."
Para ele, uma das conseqüências práticas da premiação de El Baradei será a atenção dada a partir de agora ao trabalho feito pela agência nuclear, reforçando a posição da AIEA em eventuais disputas com os EUA:
"Eu tenho certeza de que o Nobel não agradou à administração Bush e concordo que o prêmio também foi uma afirmação política feita pelo comitê sobre as posições que vêm sendo tomadas pelos EUA, mas não deixa de ser um reconhecimento ao trabalho de alguém que adota uma estratégia em direção à negociação, uma clara alternativa ao belicismo."
Cirincione diz que "o prêmio aumentará o poder e o prestígio de El Baradei e da AIEA, o que favorece o trabalho de ambos em um ambiente delicado como é o das negociações sobre a não-proliferação".
Em outra oportunidade, Cirincione ressaltou que o governo Bush tem adotado nos últimos meses uma estratégia mais direcionada à mesa de negociações, dando menos força à opinião dos "falcões" de Washington: "Condoleezza Rice, quando assumiu o cargo de secretária de Estado, reconheceu que a política linha dura, visando derrubar governos não estava funcionando".
"Ela gradualmente alterou a posição da administração e, mais importante, negou que essa mudança estivesse de fato ocorrendo para evitar atritos com "falcões" como o secretário de Defesa Donald Rumsfeld."
Cirincione também avalia que os rumos do caso do programa nuclear iraniano, o mais espinhoso no momento para a AIEA, também dependerá da existência de evidências de um arsenal nuclear no país. "Sem provas não haverá como o Irã ser levado ao Conselho de Segurança da ONU", onde poderia receber sanções.
Segundo ele, a posição diplomática do Irã vem ganhando força porque sustenta que há um "apartheid nuclear", em que países menos desenvolvidos não são permitidos a estar equiparados tecnologicamente às grandes potências.


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