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PERFIL
Para o egípcio, força deve ser o último recurso
ROBERT KOCH
DA FRANCE PRESSE, EM VIENA
O egípcio Mohamed el Baradei, que foi laureado com o
Prêmio Nobel da Paz 2005, juntamente com a AIEA (Agência
Internacional de Energia Atômica), que ele dirige desde
1997, é um pregador incansável
do combate à proliferação das
armas nucleares no mundo.
Diplomata de carreira, El Baradei, 63, está iniciando seu terceiro mandato como diretor-geral da agência de segurança
nuclear da ONU, está acostumado a se envolver nas grandes
polêmicas internacionais relativas à questão nuclear. Isso já
lhe aconteceu algum tempo
atrás, com o Iraque do ex-ditador Saddam Hussein, e está
acontecendo outra vez agora,
com o Irã e a Coréia do Norte.
"A verificação e a diplomacia,
quando andam de mãos dadas,
funcionam", costuma dizer El
Baradei, explicando o papel desempenhado pela Aiea. Ele o
resume assim porque, para a
opinião pública, a Aiea continua a ser um instrumento da
ONU que é pouco conhecido e
do qual normalmente só se ouve falar em situações de crise.
A agência ganhou destaque
público com o acidente na central nuclear de Tchernobil, na
Ucrânia, em 1986, com a descoberta de um programa nuclear
no Iraque, em 1991, e, mais recentemente, com o caso nuclear do Irã.
Para que o sistema de verificação funcione, explicou El Baradei recentemente, a Aiea precisa ter autoridade, informação, um mecanismo de implementação digno de crédito e o
consenso da comunidade internacional.
O porta-voz da não proliferação não economiza meios para
alcançar seu objetivo. Em fevereiro de 2003, El Baradei foi o
primeiro diretor da agência a ir
ao Iraque. Antes do início da
guerra liderada pelos EUA, ele
tentou, em vão, convencer
Washington de que Saddam
Hussein não tinha um programa de fabricação de armas nucleares e que as armas desse tipo tinham sido completamente
destruídas. Com o tempo, os
fatos vieram lhe dar razão.
Os colaboradores desse homem alto, calvo e de voz pausada dizem que ele sabe delegar
tarefas, mas não as perde de
vista, já que é ele quem toma as
decisões. El Baradei costuma
repetir que a força deve ser utilizada "como último recurso",
quando um Estado descumpre
suas obrigações internacionais.
Nascido no Egito em 17 de junho de 1942, Mohamed el Baradei estudou na Universidade
do Cairo e, em 1964, obteve um
doutorado em direito internacional em Nova York. Nesse
mesmo ano ele iniciou sua carreira na sede da ONU em Nova
York e, mais tarde, em Genebra. Em 1984 entrou para a
Aiea em Viena, onde foi primeiro-assessor (1987-1991) e,
depois, diretor do serviço jurídico. Em 1991 ele foi nomeado
representante do diretor-geral
para Relações Exteriores e, em
5 de junho de 1997, foi designado para dirigir a organização.
No final de setembro, El Baradei iniciou seu terceiro mandato de quatro anos à frente da
Aiea, apesar de os EUA não o
terem perdoado pelo fato de ter
levado a público a falta de provas de que Bagdá tivesse um
programa de armas nucleares.
"A independência e a imparcialidade vão continuar a
orientar meu trabalho", ele declarou ao prestar juramento.
Mohamed el Baradei é casado e tem dois filhos.
Tradução de Clara Allain
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