São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005

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PERFIL

Para o egípcio, força deve ser o último recurso

ROBERT KOCH
DA FRANCE PRESSE, EM VIENA

O egípcio Mohamed el Baradei, que foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz 2005, juntamente com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que ele dirige desde 1997, é um pregador incansável do combate à proliferação das armas nucleares no mundo.
Diplomata de carreira, El Baradei, 63, está iniciando seu terceiro mandato como diretor-geral da agência de segurança nuclear da ONU, está acostumado a se envolver nas grandes polêmicas internacionais relativas à questão nuclear. Isso já lhe aconteceu algum tempo atrás, com o Iraque do ex-ditador Saddam Hussein, e está acontecendo outra vez agora, com o Irã e a Coréia do Norte.
"A verificação e a diplomacia, quando andam de mãos dadas, funcionam", costuma dizer El Baradei, explicando o papel desempenhado pela Aiea. Ele o resume assim porque, para a opinião pública, a Aiea continua a ser um instrumento da ONU que é pouco conhecido e do qual normalmente só se ouve falar em situações de crise.
A agência ganhou destaque público com o acidente na central nuclear de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986, com a descoberta de um programa nuclear no Iraque, em 1991, e, mais recentemente, com o caso nuclear do Irã.
Para que o sistema de verificação funcione, explicou El Baradei recentemente, a Aiea precisa ter autoridade, informação, um mecanismo de implementação digno de crédito e o consenso da comunidade internacional.
O porta-voz da não proliferação não economiza meios para alcançar seu objetivo. Em fevereiro de 2003, El Baradei foi o primeiro diretor da agência a ir ao Iraque. Antes do início da guerra liderada pelos EUA, ele tentou, em vão, convencer Washington de que Saddam Hussein não tinha um programa de fabricação de armas nucleares e que as armas desse tipo tinham sido completamente destruídas. Com o tempo, os fatos vieram lhe dar razão.
Os colaboradores desse homem alto, calvo e de voz pausada dizem que ele sabe delegar tarefas, mas não as perde de vista, já que é ele quem toma as decisões. El Baradei costuma repetir que a força deve ser utilizada "como último recurso", quando um Estado descumpre suas obrigações internacionais.
Nascido no Egito em 17 de junho de 1942, Mohamed el Baradei estudou na Universidade do Cairo e, em 1964, obteve um doutorado em direito internacional em Nova York. Nesse mesmo ano ele iniciou sua carreira na sede da ONU em Nova York e, mais tarde, em Genebra. Em 1984 entrou para a Aiea em Viena, onde foi primeiro-assessor (1987-1991) e, depois, diretor do serviço jurídico. Em 1991 ele foi nomeado representante do diretor-geral para Relações Exteriores e, em 5 de junho de 1997, foi designado para dirigir a organização.
No final de setembro, El Baradei iniciou seu terceiro mandato de quatro anos à frente da Aiea, apesar de os EUA não o terem perdoado pelo fato de ter levado a público a falta de provas de que Bagdá tivesse um programa de armas nucleares.
"A independência e a imparcialidade vão continuar a orientar meu trabalho", ele declarou ao prestar juramento.
Mohamed el Baradei é casado e tem dois filhos.


Tradução de Clara Allain

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