São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

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Americano nš 300 milhões será latino

EUA devem alcançar a marca no próximo dia 17, em prazo recorde; novo habitante deve ser filho de mexicanos de Los Angeles

Em 39 anos, população cresceu em 100 milhões -53% são imigrantes ou seus filhos; hispânicos já perfazem um sexto do país

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em algum momento do próximo dia 17, a população dos Estados Unidos passará a marca dos 300 milhões de habitantes, segundo cálculos do Escritório do Censo. Desde quando começou a contagem, em 1790, o país demorou 139 anos para chegar aos primeiros 100 milhões, 52 anos para dobrar esse número e 39 anos para o total atual. Calcula-se que dobrará de novo no final do século.
A velocidade é vertiginosa, sim, mas é outro o número que preocupa os norte-americanos. "O habitante número 300 milhões deve ser filho de imigrantes latino-americanos, provavelmente do México, ou ele próprio um mexicano, e nascerá em Los Angeles ou chegará àquela área vindo da fronteira", disse à Folha William Frey, consultor do órgão que faz os cálculos e um dos mais renomados demógrafos do país.
Há mais ironia no fato de que esse norte-americano-símbolo corre o risco de ser ilegal. Se ele chegasse em algum momento do ano que vem, encontraria uma cerca no meio do caminho. Há duas semanas, o Congresso do país aprovou US$ 1,2 bilhão para que um tipo de barreira seja construído entre os países; dias depois, o presidente George W. Bush anunciou pacote parecido.
O crescimento populacional preocupa tanto que foi tema do último discurso público de Ben Bernanke, presidente do Fed, o Banco Central norte-americano. "A transição demográfica se aproxima. Nós trataremos de maneira justa as gerações futuras?", perguntou-se o economista, na última quarta-feira, em Washington.

Um Estado latino
Para justificar o cenho franzido, políticos citam os números. Dos 100 milhões de habitantes mais recentes, nascidos ou não nos EUA, 53% são imigrantes ou seus descendentes. Desses, a maioria é latino-americana, com predominância de mexicanos e seus filhos. Os hispânicos são hoje um sexto do país e a fatia que mais cresce (22% desde 2000, ante 7% de brancos e 2% de negros).
Superpovoam os Estados do sul -Califórnia, Flórida e Texas-, entre os que mais cresceram na última década. Tudo faz parte de um plano do México para reconquistar aquela parte dos EUA: é o que defende o político ultraconservador Pat Buchanan em seu mais recente livro, "State of Emergency - The Third World Invasion and Conquest of America" (estado de emergência - a invasão e conquista dos EUA pelo Terceiro Mundo).
Ele tem até um nome para esse novo Estado, em algum lugar entre o norte do México e o sul dos EUA: "Aztlan", ou o "país dos astecas", conceito usado nos anos 60 pelo movimento político Chicano, de identidade nacional, e por diversos autores de ficção. "Alguém ainda pode dizer que nós, norte-americanos, somos um "único povo'?", pergunta-se. "Não descendemos mais dos mesmos ancestrais. O cerne europeu do país -quase 95% da população em 1965- caiu hoje para menos de 70% e será menos da metade em 2050."
É verdade, mas também é verdade que os hispânicos estão progredindo financeiramente e se assimilando cada vez mais rápido: o ganho médio anual dos lares hispânicos é de US$ 39 mil -um salto de US$ 5.000 desde o ano 2000; o desemprego entre eles caiu de 5,8% para 4,9% no último ano; e 80% dos menores de 18 anos só falam inglês em casa, segundo dados recentes do Pew Research Center.
É o crescimento, e não a composição dele, que deve preocupar o país, dizem os demógrafos. "Os EUA são o único país industrializado do mundo que vive um crescimento significativo da população", disse Vicky Markham, do Centro do Ambiente e População, em Connecticut. "Sim, temos de lidar com isso", concorda Kenneth Prewitt, ex-diretor do Escritório do Censo, "mas é mais fácil lidar com isso do que com a perda de população."


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