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Americano nš 300 milhões será latino
EUA devem alcançar a marca no próximo dia 17, em prazo recorde; novo habitante deve ser filho de mexicanos de Los Angeles
Em 39 anos, população cresceu em 100 milhões -53% são imigrantes ou seus filhos; hispânicos já perfazem um sexto do país
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em algum momento do próximo dia 17, a população dos
Estados Unidos passará a marca dos 300 milhões de habitantes, segundo cálculos do Escritório do Censo. Desde quando
começou a contagem, em 1790,
o país demorou 139 anos para
chegar aos primeiros 100 milhões, 52 anos para dobrar esse
número e 39 anos para o total
atual. Calcula-se que dobrará
de novo no final do século.
A velocidade é vertiginosa,
sim, mas é outro o número que
preocupa os norte-americanos.
"O habitante número 300 milhões deve ser filho de imigrantes latino-americanos, provavelmente do México, ou ele
próprio um mexicano, e nascerá em Los Angeles ou chegará
àquela área vindo da fronteira",
disse à Folha William Frey,
consultor do órgão que faz os
cálculos e um dos mais renomados demógrafos do país.
Há mais ironia no fato de que
esse norte-americano-símbolo
corre o risco de ser ilegal. Se ele
chegasse em algum momento
do ano que vem, encontraria
uma cerca no meio do caminho. Há duas semanas, o Congresso do país aprovou US$ 1,2
bilhão para que um tipo de barreira seja construído entre os
países; dias depois, o presidente George W. Bush anunciou
pacote parecido.
O crescimento populacional
preocupa tanto que foi tema do
último discurso público de Ben
Bernanke, presidente do Fed, o
Banco Central norte-americano. "A transição demográfica se
aproxima. Nós trataremos de
maneira justa as gerações futuras?", perguntou-se o economista, na última quarta-feira,
em Washington.
Um Estado latino
Para justificar o cenho franzido, políticos citam os números. Dos 100 milhões de habitantes mais recentes, nascidos
ou não nos EUA, 53% são imigrantes ou seus descendentes.
Desses, a maioria é latino-americana, com predominância de
mexicanos e seus filhos. Os hispânicos são hoje um sexto do
país e a fatia que mais cresce
(22% desde 2000, ante 7% de
brancos e 2% de negros).
Superpovoam os Estados do
sul -Califórnia, Flórida e Texas-, entre os que mais cresceram na última década. Tudo faz
parte de um plano do México
para reconquistar aquela parte
dos EUA: é o que defende o político ultraconservador Pat Buchanan em seu mais recente livro, "State of Emergency - The
Third World Invasion and
Conquest of America" (estado
de emergência - a invasão e
conquista dos EUA pelo Terceiro Mundo).
Ele tem até um nome para
esse novo Estado, em algum lugar entre o norte do México e o
sul dos EUA: "Aztlan", ou o
"país dos astecas", conceito
usado nos anos 60 pelo movimento político Chicano, de
identidade nacional, e por diversos autores de ficção. "Alguém ainda pode dizer que nós,
norte-americanos, somos um
"único povo'?", pergunta-se.
"Não descendemos mais dos
mesmos ancestrais. O cerne europeu do país -quase 95% da
população em 1965- caiu hoje
para menos de 70% e será menos da metade em 2050."
É verdade, mas também é
verdade que os hispânicos estão progredindo financeiramente e se assimilando cada
vez mais rápido: o ganho médio
anual dos lares hispânicos é de
US$ 39 mil -um salto de US$
5.000 desde o ano 2000; o desemprego entre eles caiu de
5,8% para 4,9% no último ano;
e 80% dos menores de 18 anos
só falam inglês em casa, segundo dados recentes do Pew Research Center.
É o crescimento, e não a composição dele, que deve preocupar o país, dizem os demógrafos. "Os EUA são o único país
industrializado do mundo que
vive um crescimento significativo da população", disse Vicky
Markham, do Centro do Ambiente e População, em Connecticut. "Sim, temos de lidar
com isso", concorda Kenneth
Prewitt, ex-diretor do Escritório do Censo, "mas é mais fácil
lidar com isso do que com a
perda de população."
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