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Paraguai edita decreto que atinge brasileiros
Brasil não se pronuncia sobre norma que proíbe compra de terras por estrangeiros e contempla desapropriação
DA REPORTAGEM LOCAL
O embaixador do Paraguai
em Brasília, Luis González
Arias, viajou na manhã de ontem para Assunção com a missão de avaliar com a Chancelaria paraguaia o impacto nas relações com o Brasil de um decreto adotado na véspera que
atinge os interesses de dezenas
de produtores agrícolas brasileiros no país.
O Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra
(Indert) do Paraguai anunciou
na segunda-feira a proibição da
compra por estrangeiros de
terras provenientes da reforma
agrária de 2004, quando um
novo estatuto foi adotado para
assentar os 400 mil sem-terra
paraguaios.
Pelo novo decreto, que já está
em vigor, estrangeiros de agora
em diante só poderão comprar
propriedades que não estejam
contempladas nos 12,2 milhões
de hectares -ou 50% das terras
cultiváveis- destinados à reforma agrária. Os trâmites para
a compra de outras terras também serão restritos aos imigrantes que tenham cidadania
paraguaia ou possuam visto de
residência em dia.
Os estrangeiros que já detêm
terras no Paraguai terão de provar que a aquisição das propriedades foi feita legalmente. Caso
contrário, serão desapropriados sem direito a indenização
porque, segundo o Indert, "já
usufruíram das terras e não as
compraram de forma legal".
A resolução não afeta os imigrantes estabelecidos legalmente antes de 2004, que mantêm seu direito adquirido sobre
as terras.
Embora não sejam abertamente citados, os produtores
agrícolas brasileiros estabelecidos no Paraguai, os chamados
"brasiguaios", são os principais
visados pelo decreto -o governo brasileiro ainda não se pronunciou sobre o caso. Assunção
afirma que existem pelo menos
300 mil brasiguaios. Mas, para
o Itamaraty, hoje não passam
de 150 mil.
Os brasiguaios são responsáveis por 60% da produção paraguaia de soja -o país é o quarto
maior produtor mundial da
commodity- e são encarados
com hostilidade por parte da
população, que enxerga na presença maciça de brasileiros um
atentado à soberania e um obstáculo à reforma agrária.
Invasões de propriedades de
brasiguaios são freqüentes, em
episódios às vezes violentos. Na
semana passada, um camponês
de 45 anos foi morto pela polícia, que tentava impedir a invasão da fazenda de um brasileiro
na região de Alto Paraná.
Embora tenha se comprometido a impedi-las, as invasões
têm o apoio do presidente Fernando Lugo, um ex-bispo que
tomou posse em agosto prometendo tirar a reforma agrária do
papel -77% das terras agricultáveis paraguaias pertencem a
1% dos proprietários. Mesmo
defendendo a reforma, Lugo
enfrenta pressões de sindicatos
e camponeses.
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