São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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Para argentino, terrorismo busca novas áreas

DE WASHINGTON

Com o aumento da segurança na tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) depois de 11 de setembro, a ameaça terrorista busca outros pontos da América do Sul. Essa é a opinião de Miguel Angel Toma, chefe da Side, órgão de inteligência do governo argentino. Segundo ele, os focos agora estariam na região de Temuco, no Chile e na "segunda tríplice fronteira", como apelidou a região entre Brasil, Bolívia e Peru. De Buenos Aires, por telefone, Toma falou à Folha. (MA)

Folha - O sr. pretende entregar ao governo brasileiro as mesmas informações fornecidas à CIA?
Miguel Angel Toma -
É claro. Já houve dois encontros entre a Side e a Abin. Na semana que vem, viajo novamente ao Brasil. O nível de intercâmbio entre as duas agências é maravilhoso, inédito. Quero felicitar o esforço que o Brasil está fazendo no combate ao terrorismo. Tem sido muito eficiente.

Folha - Mas o Brasil diz que não há indícios de terror na região, enquanto o sr. constatou inclusive a possibilidade de um encontro de líderes terroristas no Paraguai.
Toma -
Não cabe a mim opinar sobre o Brasil. Nós, argentinos, já tivemos dois atentados graves em nosso país. Temos elementos muito sólidos para sustentar que a tríplice fronteira foi preponderante nesses atentados.

Folha - Os últimos indícios de terror que a Side obteve também envolvem reuniões no Brasil?
Toma -
Não. Estamos falando de Ciudad del Este. Não do Brasil, mas do Paraguai.

Folha - O sr. se reuniu recentemente com o diretor da CIA, George Tenet. Nesse encontro, o sr. disse a ele que a ameaça terrorista saiu da tríplice fronteira para uma "segunda tríplice fronteira", entre o Brasil, a Bolívia e Peru. É verdade?
Toma -
A atividade na tríplice fronteira foi diminuindo nos últimos meses com o aumento da segurança. Estamos verificando uma atividade crescente nessa região que você acabou de falar. Mas há outras áreas.

Folha - Como foi o encontro do sr. com Tenet?
Toma -
Excelente. Antes, tínhamos uma relação péssima no nível de inteligência com os EUA. Os EUA haviam deixado de confiar na inteligência argentina. Quando assumi, tratei de recuperar nossa credibilidade e estreitar nossas relações.

Folha - O governo argentino, em outubro, fez um alerta sobre o aumento de atividades terroristas na região e sobre a possibilidade de agentes terroristas reagirem, no nosso hemisfério, a um ataque contra o Iraque. O sr. poderia explicar isso melhor?
Toma -
A proximidade de um ataque ao Iraque vai provocar o aumento de atentados no mundo. Somos obrigados a contemplar essa possibilidade. O problema primordial não é Foz de Iguaçu. Quero deixar claro que o serviço de inteligência do Brasil é excelente. Observamos o aumento de atividades de risco no Paraguai, e não no Brasil. Há dados de inteligência que poderiam indicar que esse encontro [terrorista] teria ocorrido. Mas sobre isso não posso lhe dar informações.


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