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Suposto encontro deve ser visto com cautela
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
A divulgação da suposta reunião de terroristas na Tríplice
Fronteira precisa ser vista com
cautela. Se, por um lado, a região
suscita suspeitas por sua porosidade e pela ação do crime organizado, por outro há interesses que
podem estar ocultos na tentativa
de eleger a faixa de fronteira entre
Brasil, Argentina e Paraguai como
um "novo Afeganistão".
Virar um país aliado dos EUA
na "guerra ao terror" é um bom
negócio. O Paquistão, por exemplo, era um país com uma dívida
externa asfixiante de US$ 70 bilhões e enfrentava sanções.
Ao virar parceiro, tudo mudou.
As sanções foram levantadas e a
ajuda soma mais de US$ 6 bilhões. A dívida está sendo renegociada, e o regime militar do país
foi legitimado frente ao mundo.
A Argentina, mergulhada em
crise, poderia ter acesso a uma fatia dos US$ 3,6 bilhões destinados
pelos EUA à ajuda militar externa,
por exemplo.
Os EUA, por sua vez, poderiam
reforçar sua presença militar no
continente -que só fez crescer
recentemente, com o Plano Colômbia e o treinamento de soldados paraguaios. Uma associação
militar com países mais fracos dá
uma nova luz estratégica às discussões sobre a Área de Livre Comércio das Américas.
Há também problemas na acusação. O ponto mais frágil é a associação feita entre o Hizbollah e
a rede Al Qaeda.
Primeiro, até agora não existe
nenhuma prova da existência de
grupos ligados à Al Qaeda na região. O Brasil, por exemplo, nega.
Segundo, o Hizbollah não tem
ligação conhecida com a rede.
Uma associação pelo fato de ambos combaterem Israel e, por extensão, os EUA, é factível em teoria. Mas o Hizbollah é financiado
pelo Irã, país adversário de Osama bin Laden e que até agora só
perdeu com as ações da rede do
saudita. Desde o 11 de setembro,
Teerã viu seu plano de aproximar-se do Ocidente e virar potência regional ruir. Virou parte do
"eixo do mal" de George W. Bush.
Por outro lado, a Tríplice Fronteira, centrada entre Ciudad del
Este e Foz, vem merecendo a
atenção desde a década de 90,
quando ocorreram atentados
contra entidades judaicas argentinas supostamente tramados lá.
Além das fronteiras pouco vigiadas, a região abriga uma grande comunidade libanesa -logo a
associação com o Hizbollah. Nos
anos 90, o grupo enviava regularmente líderes para a região, para
"tirá-los de circulação".
Como contra-argumento, os líderes da comunidade vêem preconceito, lembrando que o Hizbollah é também um partido com
rede assistencialista no Líbano,
que recebe ajuda de parentes no
estrangeiro -daí a ligação.
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