São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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RELIGIÃO

Acadêmico ligado ao presidente questionou o poder do clero conservador

Irã condena reformista à morte

DA REDAÇÃO

Um tribunal do Irã condenou à morte um jornalista e acadêmico aliado do presidente Mohammad Khatami por blasfêmia e apostasia. Hashem Aghajari, 45, questionou o direito do clero a governar a república islâmica.
O veredicto deve aumentar as tensões entre os reformistas, liderados pelo presidente Khatami, e os religiosos conservadores que dominam de fato o país.
Aghajari foi condenado a receber 74 chibatadas, permanecer oito anos na prisão e depois ser executado. Seu advogado acredita que possa mudar a condenação na Suprema Corte.
Ele comparou, numa palestra, os poderes dos religiosos que governam o Irã àqueles desfrutados pelos papas na Idade Média e defendeu o fim da "obediência cega" aos decretos islâmicos. Ele ainda questionou o fato de os muçulmanos xiitas imitarem os religiosos qualificados a interpretar o Alcorão. "As pessoas são macacos para imitar os outros?", teria indagado Aghajari.
Os reformistas defendem o direito da imprensa e dos intelectuais à liberdade de expressão. Vêem a sentença como uma escalada do comportamento repressor dos conservadores. Apesar de seguidas derrotas eleitorais, eles continuam limitando as mudanças para permanecer no poder.
Enquanto a Presidência e o Parlamento são dominados pelos reformistas, os conservadores -encabeçados pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei- controlam o Judiciário, as Forças Armadas e órgãos que supervisionam os processos eleitorais e as práticas legislativas.
O presidente Khatami já encaminhou ao Parlamento dois projetos de lei com o objetivo de limitar o poder do Judiciário e impedir que um órgão conservador continue a vetar candidatos nas eleições -instrumento usado pelo clero para barrar reformas.
Dezenas de jornalistas e acadêmicos militantes foram presos nos últimos anos. "Essa sentença foi adotada para intimidar os reformistas", disse o deputado Ali Shakourirad. "Isso é inaceitável. É incompatível com a lei, com a sharia [código de leis islâmico] e com a lógica."


Com agências internacionais


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