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Passado se reflete em preferências políticas atuais
DA ENVIADA À ALEMANHA
Depois de 40 anos convivendo com uma parede no meio em
dois sistemas díspares, é de se
esperar que haja diferenças de
mentalidade e mesmo de costumes. A jornalista Maritta
Adam-Tkalec, que cresceu em
Berlim Oriental, conta de discussões atuais com colegas da
ex-Alemanha Ocidental sobre
os direitos femininos.
"Na RFA o discurso teórico
era muito forte, mas a prática
era débil. Na RDA, tudo que era
pedido na RFA já era normal,
porém dentro de um sistema de
falta de liberdade."
Quanto mais velha a geração,
maior o abismo -pesquisa recente do Pew colocou em 9
pontos (90% contra 81%) a diferença entre os mais novos e
os mais velhos em um levantamento sobre a aprovação da
mudança para o capitalismo.
"Há dois anos mudei de Friedrichshain para Kreuzberg,
dois bairros dentro do único
distrito de Berlim que funde
Leste e Oeste. Mas como fui de
um lado do muro para o outro,
minha família não gostou. Eu
mudei 2 km, mas, para eles, eu
mudei de mundo", diz Maritta.
Diferenças de mentalidade
se traduzem em diferenças políticas. No Leste, a esquerda,
agora encarnada na Linke, vai
bem, enquanto no Ocidente a
União Democrata-Cristã se impõe (os social-democratas, no
meio, foram mal na eleição de
outubro).
"Uma pesquisa recente mostrou que os alemães da antiga
República Democrática Alemã
têm uma predileção pela proteção do Estado", afirma Volker
Nitsch, professor de economia
da Universidade Livre de Berlim que estuda a reunificação.
"Isso prova que as instituições
podem moldar as preferências
das pessoas, e não o contrário."
Mas a questão principal é
mesmo a sub-representação do
Leste, que pode ser explicada
tanto por um estigma que
acompanha os políticos desse
lado da Alemanha quanto pela
ausência de novos nomes.
"Não há grandes personalidades vindas de lá", diz Maritta,
afirmando que muitos jovens
foram estudar do outro lado tão
logo o muro caiu. "Só os menos
dinâmicos ficaram."
(LC)
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