São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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Jovens ignoram separação de geração passada

DA ENVIADA À ALEMANHA

"É difícil para mim perceber que eram dois Estados. Eu não tenho memória de quando o Muro caiu", diz Carolin Espe entre pausas, buscando uma lembrança que inexiste.
A estudante de Ciências Sociais de 21 anos, nascida e criada em Leipzig, ouviu dos pais "as dificuldades e oportunidades de antes e depois do muro". "Mas eles nunca me disseram se a RDA [República Democrática Alemã] era melhor ou pior que outros lugares." (Sim, ela usa o acrônimo extinto).
Cinco anos mais velho e nascido em Hamburgo (Oeste), seu amigo Sven Knobloch puxa algo da memória. "Eu achava que no Leste todo mundo era ruivo, porque meus parentes de lá tinham cabelo vermelho."
Piadas à parte, os dois concordam que as diferenças, em sua geração, se limitam a gírias e códigos comportamentais.
"Os jovens não têm a separação de mundos, mas distinguem claramente quem vem de cá e quem vem de lá", diz Maritta Adam-Tkalec, mãe de um garoto de 19 anos de Berlim. "Afinal, jovens vêm da casa dos pais, e os pais são diferentes."
Carolin e Sven refletem isso. Os pais dela perderam o emprego e tiveram de aprender a poupar. "Eles nunca haviam pensado que teriam de guardar dinheiro ou temer pelo emprego -no velho sistema o emprego estava lá."
"Nossa geração é mais unida que a dos nossos pais", diz Sven. "Quando disse que ia estudar em Leipzig, onde está uma das mais tradicionais universidades do país, eles viraram e disseram: "Mas você vai para o Leste?'".

Olhar para o futuro
O que lhes importa é o futuro, em que pesa o medo do desemprego. Histórias de amigos com dificuldade para entrar no mercado de trabalho vêm de todo o país. A política não os anima (ela votou nos social-democratas; ele nos verdes, mas sentem falta de plataformas de fato distintas). Carolin se desencantou com Angela Merkel. "Ela é do Leste e cedeu aos conservadores."
E o passado? "Para esta geração, a revolução política e a queda do Muro são algo dos livros", diz Frank Richter, 49, líder dos protestos em Dresden. Muitos contemporâneos seus ressentem o desdém juvenil. Mas a culpa não cabe só aos garotos. As escolas, contam, quase nada ensinam da RDA.
"Eu não culparia os professores, embora em alguns casos talvez seja uma tentativa de esquecer o próprio passado", diz Axel Klausmeier, do Centro de Documentação sobre o Muro. "Mas a RDA, a divisão, não estão mais na agenda. Eles começam nos gregos e conseguem ir até a Alemanha nazista."
Para Tobias Holitzer, curador do Museu da Stasi em Leipzig, "outros países têm muito menos problemas falando da Cortina de Ferro do que os alemães". "Na Alemanha, não houve suficiente debate sobre a história comum de ausência de liberdades." (LC)


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