São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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Dresden espelha idas e vindas da recuperação no Leste Europeu

DA ENVIADA A DRESDEN

De cada 2 chips produzidos atualmente na Europa, 1 vem de Dresden, afirma orgulhoso Dirk Hilbert, vice-prefeito da cidade e encarregado de seu Departamento Econômico. Só para depois reclamar da concorrência asiática e da dificuldade em atrair investimentos externos porque suas empresas são pulverizadas demais -95% têm menos de 50 empregados.
Nascido e criado na cidade, Hilbert, 38, lembra que o investimento na indústria de semicondutores se provou frutífero de cara, e a cidade virou um exemplo pulsante. Em 2002, o setor empregava 19 mil na região. Em 2007, eram 44 mil.
"Estávamos indo bem, até que na última crise a Quimonda quebrou", afirma Hilbert. Quimonda era a maior empresa local e empregava mais de 40 mil pessoas. O desemprego, antes baixo, hoje supera 11%.
Parte da geração de Hilbert foi embora com a queda do muro, e o esforço agora é para reter os mais jovens, desenvolvendo institutos de tecnologia para evitar que saiam para estudar no Oeste e fiquem lá de vez.

Nacionalismo
Mas com a desocupação em alta, o sentimento de frustração entre os jovens ganha eco nos movimentos nacionalistas. Hilbert nega haver problemas com violência ou racismo, mas pesquisa citada pela Bloomberg aponta um crescimento de 55% da violência contra estrangeiros no Estado da Saxônia.
Em fevereiro, para marcar o aniversário da destruição de Dresden na Segunda Guerra, grupos neonazistas atraíram 6.000 pessoas para uma passeata anti-imigrantes (4% da população é de imigrantes, diz Hilbert; em 2001, eram 2,5%).
Quanto mais se vai para o Leste rumo à Polônia, onde o setor se calcava na indústria energética a carvão, mais esse niilismo cresce.
Se em Dresden cerca de 10% da população foi embora -parte disso acabou voltando-, mais ao Leste há pequenas cidades inteiras sumindo do mapa. Com um alto índice de emigração de jovens, sobretudo mulheres, o que resta nelas é uma massa de homens de meia-idade desempregada que sobrevive da rede de seguridade social estatal e da agricultura de subsistência.
"Lugares como Hoyerswerda e Zittau perderam metade dos habitantes e estão desaparecendo", afirma Hilbert. "O governo já não consegue nem mais achar médicos para mandar para lá, ninguém quer ir. Escolas e creches estão fechando". Em cidades assim, os índices de alcoolismo e de doenças psíquicas cresce.
Uma forma de tentar reativar essas cidades é atrair para elas turistas, construindo, em uma paisagem mineradora quase lunar, balneários em torno de lagos que possam trazer gente e estimular o comércio.
Mas leva tempo, e o plano esbarra em um propalado desinteresse dos habitantes da antiga República Federal da Alemanha pelo outro lado. "Se a separação persistisse, acho que eles praticamente teriam esquecido os orientais. Eles visitam a Espanha, a França, mas não têm nenhum interesse na Alemanha Oriental", diz o historiador Siegfried Suckut.
Dresden, uma exceção devido a um conjunto arquitetônico secular (parte dele foi arrasado na Guerra e depois reconstruído), recebe 10 milhões de visitantes por ano e é o 6º lugar mais visitado da Alemanha. "O problema é que ainda há poucos estrangeiros", diz Hilbert. Ironicamente, ele se anima com visitantes há 20 anos indesejados. "Os russos agora estão vindo em massa." (LC)


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