São Paulo, domingo, 8 de novembro de 1998

Próximo Texto | Índice

REINO UNIDO
BBC proíbe referências à vida privada do ministro Mandelson após colunista ter dito que ele era "certamente gay'
Sexualidade de ministro gera censura

ISABEL CLEMENTE
de Londres

O homossexualismo entre políticos britânicos, até agora um assunto tratado com naturalidade pelo governo trabalhista do primeiro-ministro Tony Blair, se transformou numa polêmica que já envolve um dos mais populares ministros do Reino Unido, Peter Mandelson (Indústria e Comércio), 45.
A rede estatal de rádio e TV BBC proibiu todos os seus jornalistas de fazer qualquer menção à sexualidade de Mandelson, depois que Matthew Parris, um colunista político do jornal "The Times" que não esconde sua homossexualidade, ter dito em um dos programas televisivos da emissora que o ministro "era certamente gay".
Houve reações de inconformismo tanto da oposição quanto de membros do próprio governo em relação à censura da BBC.
Uma das pessoas a se manifestar a respeito foi a secretária de Estado para a Irlanda do Norte, Mo Mowlan. Ela questionou se esse privilégio seria conferido a outras figuras públicas do país.
²
"Referências gratuitas' A rede BBC, que se desculpou diretamente ao ministro Mandelson, justificou sua atitude afirmando que pretende impedir "referências gratuitas à vida privada dos políticos". A única exceção à regra, diz a TV, é quando o assunto envolver "questões maiores".
Os jornalistas da BBC protestaram, principalmente a equipe do tradicional programa "O que os jornais dizem", que ainda não sabe como contornar a ordem interna, visto que toda a imprensa publicou a história.
À polêmica envolvendo Mandelson, adiciona-se mais um ingrediente -a recente renúncia do secretário de Estado para o País de Gales, Ron Davies, envolvido recentemente num escândalo que jornais atribuíram a uma relação homossexual.
Na tentativa de minimizar "potenciais embaraços para sua família e o governo", Davies, que é casado, renunciou ao cargo, após contar ter sido vítima de um assalto provocado por um "sério erro de julgamento".
²
"Somos aquilo que somos' Davies foi assaltado por três desconhecidos que encontrou num parque da cidade à noite e com os quais estaria indo jantar.
A polícia investiga o caso e já trabalha com a hipótese de que o ex-ministro estava a procura de parceiros, apesar de ele ter negado.
Em discurso na Câmara dos Comuns, a câmara baixa do Parlamento britânico, para explicar por que renunciou, Davies não esclareceu os fatos que antecederam o assalto, mas deu a entender que seria bissexual ao afirmar que "somos aquilo que somos".
Mandelson e Davies viraram o principal assunto dos tablóides (jornais sensacionalistas), dos jornais mais sérios e suas seções de cartas de leitores.
²
Amigo brasileiro Um desses tablóides, inclusive, publicou entrevista com um brasileiro que seria "amigo íntimo" de Mandelson. Segundo o "The Express", um estudante, que hoje vive em Tóquio (Japão), teria conhecido Mandelson há dois anos, quando morava em Londres, e seria hóspede regular na casa do ministro.
Diz o "The Express" que a amizade íntima dos dois foi confirmada por um porta-voz do ministro. Procurados pela Folha, os assessores de Mandelson preferiram não comentar o assunto.
A discussão sobre homossexualismo ganhou mais força depois que um ex-ministro do partido conservador, lorde Tebbit, declarou, em carta publicada no "The Daily Telegraph", que homossexuais não deveriam ocupar altos cargos num governo porque tendem "a usar suas posições para fazer favores uns aos outros".
Leitores revoltados com o que julgam ser preconceito do político mandaram várias cartas para os jornais. Houve apoio também.
Até a Associação Conservadora da Universidade de Oxford fez questão de esclarecer que o pensamento de Tebbit não reflete a posição do Partido Conservador.



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.