São Paulo, domingo, 8 de novembro de 1998

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OS ESPECIALISTAS
Fuga é traço importante nos suicidas, diz psiquiatra

de Paris

Um dos primeiros sintomas de um provável adolescente suicida na França é a fuga de casa ou da escola, segundo afirmou o psiquiatra Xavier Pommereau, responsável pela unidade de atendimento aos jovens que tentaram suicídio no Centro Abadie, em Bordeaux.
"Não se pode desprezar a fuga. Quando uma criança começa a fugir com frequência da escola, nunca volta para casa, preferindo sempre passar as noites na casa de um amigo, é preciso tomar cuidado. Normalmente, a fuga é um ato para chamar a atenção dos adultos para seus problemas. O suicídio é um ato com a mesma finalidade", disse.
Segundo Pommereau, não há um protótipo de um adolescente suicida, pois o problema pode acontecer em qualquer circunstância ou classe social. Mas é possível detectar alguns comportamentos característicos.
"Uma menina que, aos 15 anos, já fugiu de casa pelo menos três vezes, fuma, bebe e consome drogas, tem todos os indicadores de quem está tentando fugir da realidade, chamar a atenção para ela mesma. O mesmo acontece com meninos que apresentam conduta violenta e bebem demais."
Normalmente, esses sintomas vêm acompanhados de uma queda do desempenho escolar -o que também não é uma regra. Segundo o médico, um adolescente suicida também pode mergulhar no trabalho, se trancar para estudar durante horas em seu quarto, recusando-se a ver seus amigos.
Mas é preciso diferenciar os comportamentos considerados "normais" da chamada crise da adolescência.
Para o psiquiatra, os jovens suicidas têm uma tendência a fugir dos usuais conflitos do período. "Brigar com seus pais e rejeitar a sociedade são atitudes saudáveis de jovens que se mostram prontos a um conflito com os adultos. Os suicidas vão pelo caminho contrário, eles fogem dos conflitos."
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Drogas e álcool Os indicadores de risco de suicídio variam de acordo com a idade, segundo afirmou à Folha Marie Choquet, diretora de pesquisa do Inserm (Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica) e membro da equipe de especialistas do Ministério da Saúde da França.
Segundo ela, o consumo de drogas e de álcool constituem um fator de risco para menores de 15 anos. Para os maiores, os indicadores são mais particulares, como a fuga e a depressão.
"A melhor prevenção para o suicídio é que os jovens estejam bem com a família, com os amigos e na escola. Como isso é muito difícil de acontecer, acredito que as ações preventivas sejam bastante complicadas", disse.
O instituto pesquisa o suicídio de adolescentes desde 1980. Segundo Choquet, o trabalho do órgão é muitas vezes dificultado, pois diversas famílias de vítimas se negam a falar sobre o assunto. "O suicídio na sociedade francesa ainda é um tabu", afirmou. (MSg)



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