São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2001

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Em vídeo, agente da CIA ameaça o americano pró-Taleban preso

DO "THE INDEPENDENT"

Um vídeo divulgado por um cinegrafista afegão mostra agentes da CIA (central de inteligência dos EUA) fazendo ameaças ao americano que lutou pelo Taleban, durante o interrogatório a que ele foi submetido.
Nas imagens, gravadas há duas semanas, dois agentes ameaçam John Walker, que estava entre os militantes do Taleban que se rebelaram na prisão-fortaleza perto de Mazar-e-Sharif. A repressão ao levante, que teve ajuda dos EUA, deixou centenas de mortos.
Um dos agentes era Mike Spann, integrante da divisão de atividades especiais da CIA -a ala paramilitar do braço de espionagem da agência-, morto horas depois na rebelião.
A natureza exata da ameaça -feita por Spann e outro agente chamado Dave- não fica clara. No vídeo, Spann, com um rifle AK-47 nas costas, é visto acenando para Walker e depois dizendo a Dave: "Expliquei qual é o trato".
O vídeo mostra Walker debilitado e sujo, ajoelhado no chão, com os braços amarrados nas costas, olhando para baixo enquanto Spann discute com ele.
Dave então responde, usando linguagem chula: "O problema é que ele precisa decidir se quer viver ou morrer. Se ele quer morrer, vai morrer aqui. Caso contrário, ele vai passar o resto de sua curta vida na prisão. A decisão é dele".
"Nós podemos ajudar apenas os caras que querem conversar com a gente. Só podemos dar acesso à Cruz Vermelha para um número limitado de pessoas", continua.
Horas depois do interrogatório, centenas de prisioneiros começaram uma rebelião, pegando armas dos guardas da Aliança do Norte. Nos combates, Spann foi morto, enquanto Dave conseguiu sair da prisão, matando vários prisioneiros. Walker foi um dos poucos sobreviventes do levante e está sob custódia dos EUA.
Para Kenneth Ross, diretor-executivo da ONG Human Rights Watch, ameaças são consideradas uma forma de tortura, segundo as leis internacionais.
"As leis internacionais são absolutamente claras sobre o fato de que qualquer prisioneiro tem o direito a um tratamento humano e não pode ser morto sumariamente. Não está claro o que o homem da CIA estava fazendo, mas, se ele estava ameaçando deixá-lo apodrecer até a morte, seria totalmente inadequado. A ameaça de morte é uma forma de tratamento severa, se não for tortura", afirmou Kenneth Ross.
A CIA não quis comentar o comportamento dos seus agentes registrado na fita de vídeo.



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