São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2006

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Morte derruba moral das tropas brasileiras no Haiti

DO ENVIADO A PORTO PRÍNCIPE

Da estupefação à tristeza à expectativa. Foi esse o turbilhão que atingiu as tropas brasileiras em ação no Haiti durante o sábado, quando ouviram a notícia da morte do general Urano Bacellar, seu comandante, a possibilidade de ter sido um suicídio, e, no fim do dia, a promessa de que as circunstâncias do caso serão apuradas pela ONU.
O dia começou normal para a maioria dos soldados brasileiros, cujo excesso de trabalho não deixa muito tempo para descanso. Participaram de uma operação ostensiva nas cercanias da região conhecida como Cité Militaire, perto do litoral. Os coronéis que acompanhavam a tropa foram informados antes por emissários da ONU, mas a tropa só recebeu a informação quando se reagrupou na base Bravo, uma das quatro do Brasil no país, na hora do almoço.
Segundo militares ouvidos ontem pela Folha, o moral da tropa desabou com a notícia, especialmente por conta da ausência de detalhes e pela surpresa provocada nos soldados.
O clima só melhorou no final do dia, quando Juan Valdés, chefe diplomático da a Minustah (Missão das Nações Unidas para estabilização do Haiti), conversou com os militares. Ele se emocionou ao lamentar a morte de Bacellar, dizendo precisar que os brasileiros continuem o bom trabalho para "honrar a memória" do general.
O Itamaraty afirmou que o Brasil não pretende mudar nada na missão brasileira e deve indicar um substituto, a ser submetido à ONU, como de praxe.
Ao falar sobre a morte ontem, durante entrevista coletiva, Valdés ficou com os olhos rasos d'água. Citando o general como um homem "generoso, com coragem e valor" disse a câmeras de TV: "Foi uma tragédia que afetou a todos profundamente, e a mim, pessoalmente."
Ontem, o dia foi novamente agitado para os soldados, engajados em uma operação na favela de Cité Soleil para conter os seqüestros. Voltariam à base Bravo no final da tarde, para novamente reagrupar antes da cerimônia fúnebre prevista para a manhã de hoje.
Por ordem da ONU, apenas o embaixador Valdés está autorizado a falar sobre o caso, provocando o silêncio ou o pedido de anonimato de muitos militares brasileiros. O Ministério do Exército, no Brasil, proibiu a reportagem da Folha de entrevistar soldados na base Bravo.
O clima nas ruas de Porto Príncipe parecia tranqüilo. Ouvia-se o som de helicópteros ao longe, e, vez por outra, carros brancos cortavam o trânsito levando soldados da missão. Um militar brasileiro disse que nenhum lugar da ilha é seguro, hora nenhuma do dia. A qualquer momento poderia haver troca de tiros. O melhor seria manter sempre a cautela.
Mas Valdés, em sua entrevista, descreveu uma situação diferente, de estabilidade. Anunciou uma nova ofensiva contra a onda de seqüestros, ressaltando que este tipo de crime é "difícil" de combater. Comerciantes prometem fechar as portas hoje, em protesto contra a insegurança. (ID)


Colaborou a Sucursal de Brasília

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