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Morte derruba moral das tropas brasileiras no Haiti
DO ENVIADO A PORTO PRÍNCIPE
Da estupefação à tristeza à expectativa. Foi esse o turbilhão que
atingiu as tropas brasileiras em
ação no Haiti durante o sábado,
quando ouviram a notícia da
morte do general Urano Bacellar,
seu comandante, a possibilidade
de ter sido um suicídio, e, no fim
do dia, a promessa de que as circunstâncias do caso serão apuradas pela ONU.
O dia começou normal para a
maioria dos soldados brasileiros,
cujo excesso de trabalho não deixa muito tempo para descanso.
Participaram de uma operação
ostensiva nas cercanias da região
conhecida como Cité Militaire,
perto do litoral. Os coronéis que
acompanhavam a tropa foram informados antes por emissários da
ONU, mas a tropa só recebeu a informação quando se reagrupou
na base Bravo, uma das quatro do
Brasil no país, na hora do almoço.
Segundo militares ouvidos ontem pela Folha, o moral da tropa
desabou com a notícia, especialmente por conta da ausência de
detalhes e pela surpresa provocada nos soldados.
O clima só melhorou no final do
dia, quando Juan Valdés, chefe diplomático da a Minustah (Missão
das Nações Unidas para estabilização do Haiti), conversou com
os militares. Ele se emocionou ao
lamentar a morte de Bacellar, dizendo precisar que os brasileiros
continuem o bom trabalho para
"honrar a memória" do general.
O Itamaraty afirmou que o Brasil não pretende mudar nada na
missão brasileira e deve indicar
um substituto, a ser submetido à
ONU, como de praxe.
Ao falar sobre a morte ontem,
durante entrevista coletiva, Valdés ficou com os olhos rasos d'água. Citando o general como um
homem "generoso, com coragem
e valor" disse a câmeras de TV:
"Foi uma tragédia que afetou a todos profundamente, e a mim,
pessoalmente."
Ontem, o dia foi novamente agitado para os soldados, engajados
em uma operação na favela de Cité Soleil para conter os seqüestros.
Voltariam à base Bravo no final
da tarde, para novamente reagrupar antes da cerimônia fúnebre
prevista para a manhã de hoje.
Por ordem da ONU, apenas o
embaixador Valdés está autorizado a falar sobre o caso, provocando o silêncio ou o pedido de anonimato de muitos militares brasileiros. O Ministério do Exército,
no Brasil, proibiu a reportagem
da Folha de entrevistar soldados
na base Bravo.
O clima nas ruas de Porto Príncipe parecia tranqüilo. Ouvia-se o
som de helicópteros ao longe, e,
vez por outra, carros brancos cortavam o trânsito levando soldados da missão. Um militar brasileiro disse que nenhum lugar da
ilha é seguro, hora nenhuma do
dia. A qualquer momento poderia haver troca de tiros. O melhor
seria manter sempre a cautela.
Mas Valdés, em sua entrevista,
descreveu uma situação diferente,
de estabilidade. Anunciou uma
nova ofensiva contra a onda de
seqüestros, ressaltando que este
tipo de crime é "difícil" de combater. Comerciantes prometem fechar as portas hoje, em protesto
contra a insegurança.
(ID)
Colaborou a Sucursal de Brasília
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