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Nas ruas, população vê ecos de crise de 2001
DE BUENOS AIRES
Sobrenomes famosos da Argentina manifestam às TVs, aos
jornais e às rádios intranquilidade com a situação do país e
dúvida sobre qual será o desfecho da crise política que chegou
junto com 2010.
Mas, para quem vive em Buenos Aires, é nos comentários
cotidianos dos cidadãos que
povoam as ruas e o comércio da
capital do país que as reações às
atitudes da gestão Cristina
Kirchner têm a expressão mais
contundente.
Olhos fixos na TV que mostrava imagens de desabrigados
por uma inundação às vésperas
do último Natal, Patricia, dona
de um pequeno comércio de
frios, repetia para si mesma:
"Não posso nem vê-la. Eu a
odeio! Eu a odeio! Eu a odeio!".
Falava de Cristina, que julga
insensível às necessidades da
população. "Ela não se preocupa com ninguém, só quer saber
de roubar dinheiro, como fez lá
no Sul [Santa Cruz, terra natal e
berço político de Néstor Kirchner, marido de Cristina]."
O declarado aumento de patrimônio do casal Kirchner
-158% em 2008- enfurece os
argentinos, confrontados a cada dia com sinais de uma pobreza que parece superior à dos
índices oficiais -manipulados,
segundo a oposição.
Nesta semana, a irritação da
população assumiu a forma de
um presságio. "Este ano começou como o de 2001", diz Ariel,
que gerencia um café no bairro
de Palermo, mas vive na região
da cidade em que o ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) tem sua chácara.
Dois mil e um foi o ano em
que Fernando De La Rúa abandonou a Casa Rosada de helicóptero, renunciando à Presidência em meio à convulsão social e à crise econômica. Antes,
De La Rúa havia destituído do
cargo o então titular do Banco
Central, Pedro Pou, sob suspeita lavagem de dinheiro.
A repressão aos protestos sociais ocasionou duas mortes de
manifestantes, jamais ignoradas por Cristina, cujo chefe de
gabinete, Aníbal Fernández,
sempre reitera que "este governo não reprimirá manifestações de trabalhadores".
Pois elas serão muitas em
2010, se Ariel estiver correto.
"Duhalde está aprontando a
tropa, chamando gente. Algo
vai acontecer neste país." Outros observadores também
atribuem a Duhalde, pré-candidato à Casa Rosada, o controle
de uma militância que ele usaria para atazanar o governo.
Com maioria opositora no
Congresso e uma guerra às claras contra o Grupo Clarín,
maior conglomerado de mídia
argentino, Cristina parece ter
demasiadas frentes de batalha
com que lidar neste ano.
O veredicto de Patricia: "Não
dá para saber o que vai acontecer. Mas o argentino é muito
manso! Se não, as coisas não teriam chegado a este ponto".
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