São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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Nas ruas, população vê ecos de crise de 2001

DE BUENOS AIRES

Sobrenomes famosos da Argentina manifestam às TVs, aos jornais e às rádios intranquilidade com a situação do país e dúvida sobre qual será o desfecho da crise política que chegou junto com 2010.
Mas, para quem vive em Buenos Aires, é nos comentários cotidianos dos cidadãos que povoam as ruas e o comércio da capital do país que as reações às atitudes da gestão Cristina Kirchner têm a expressão mais contundente.
Olhos fixos na TV que mostrava imagens de desabrigados por uma inundação às vésperas do último Natal, Patricia, dona de um pequeno comércio de frios, repetia para si mesma: "Não posso nem vê-la. Eu a odeio! Eu a odeio! Eu a odeio!".
Falava de Cristina, que julga insensível às necessidades da população. "Ela não se preocupa com ninguém, só quer saber de roubar dinheiro, como fez lá no Sul [Santa Cruz, terra natal e berço político de Néstor Kirchner, marido de Cristina]."
O declarado aumento de patrimônio do casal Kirchner -158% em 2008- enfurece os argentinos, confrontados a cada dia com sinais de uma pobreza que parece superior à dos índices oficiais -manipulados, segundo a oposição.
Nesta semana, a irritação da população assumiu a forma de um presságio. "Este ano começou como o de 2001", diz Ariel, que gerencia um café no bairro de Palermo, mas vive na região da cidade em que o ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) tem sua chácara.
Dois mil e um foi o ano em que Fernando De La Rúa abandonou a Casa Rosada de helicóptero, renunciando à Presidência em meio à convulsão social e à crise econômica. Antes, De La Rúa havia destituído do cargo o então titular do Banco Central, Pedro Pou, sob suspeita lavagem de dinheiro.
A repressão aos protestos sociais ocasionou duas mortes de manifestantes, jamais ignoradas por Cristina, cujo chefe de gabinete, Aníbal Fernández, sempre reitera que "este governo não reprimirá manifestações de trabalhadores".
Pois elas serão muitas em 2010, se Ariel estiver correto. "Duhalde está aprontando a tropa, chamando gente. Algo vai acontecer neste país." Outros observadores também atribuem a Duhalde, pré-candidato à Casa Rosada, o controle de uma militância que ele usaria para atazanar o governo.
Com maioria opositora no Congresso e uma guerra às claras contra o Grupo Clarín, maior conglomerado de mídia argentino, Cristina parece ter demasiadas frentes de batalha com que lidar neste ano.
O veredicto de Patricia: "Não dá para saber o que vai acontecer. Mas o argentino é muito manso! Se não, as coisas não teriam chegado a este ponto".


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