São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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HAITI

Ex-presidente volta a dizer que EUA e França o seqüestraram e afirma que ainda é o governante

No exílio, Aristide pede "resistência pacífica"

Pablo Aneli/Associated Press
Soldado dos EUA patrulha rua de Porto Príncipe, capital do Haiti, após um tiroteio ocorrido durante marcha de opositores do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide


DA REDAÇÃO

O ex-presidente do Haiti Jean-Bertrand Aristide apareceu ontem em público pela primeira vez desde que saiu do país, no último dia 29. Em entrevista coletiva, na República Centro-Africana, Aristide disse que ainda é o presidente, que foi mandado à força para exterior e pediu "resistência pacífica" a seus partidários -um dia depois que eles abriram fogo contra manifestantes anti-Aristide.
Em Paris, um dos advogados de Aristide, Gilbert Collard, afirmou que o ex-presidente planeja processar os EUA e a França por "seqüestro". "A ação vai ser contra o embaixador francês [em Porto Príncipe] e contra as autoridades militares americanas responsáveis pelo seqüestro. Se obtivermos apoio de alguns Estados africanos, iremos também apelar à ONU", disse Collard.
A Casa Branca rebateu mais uma vez as acusações. "Ele renunciou e deixou o país. Quaisquer declarações que causem mais divisão não contribuem em nada", disse o porta-voz Trent Duffy.
O virtual candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, atacou a atuação de Bush na questão. "Veja, Aristide não era fácil, fez um monte de coisas erradas. [Mas o governo] tinha entendimentos na região a respeito do direito de um regime democrático pedir ajuda. E nós deixamos isso de lado. Acho que é uma mensagem terrível para a região", disse ao jornal "The New York Times".

"Seqüestro político"
Falando a dezenas de jornalistas, Aristide deu mais detalhes sobre sua versão dos fatos. "Foi, na verdade, um seqüestro político, que infelizmente abriu caminho para uma ocupação [americana]. Eu continuo sendo o presidente eleito. Faço um apelo pela restauração da democracia."
Aristide afirmou que, no dia da renúncia, o embaixador americano lhe disse que seria levado para uma entrevista coletiva na capital. "Eles me colocaram em um carro e me levaram ao aeroporto."
Sobre os seus planos futuros, Aristide foi ambíguo. "Para onde vou dependerá das circunstâncias. Por enquanto, estou muito bem aqui."
O governo da República Centro-Africana disse que, se quiser, Aristide poderá permanecer em definitivo no país. A África do Sul, outro possível local de residência permanente, informou não se opor a receber Aristide, mas não recebeu nenhum pedido formal.
A tropa de marines enviada pelos EUA circulou ontem ostensivamente pelas ruas de Porto Príncipe em veículos armados. De acordo com declarações do comandante Mark Gurganus, um dos seis mortos no ataque de domingo foi vítima das forças americanas, que reagiram no momento em que supostos partidários de Aristide dispararam contra a multidão reunida em frente ao Palácio Presidencial.
Leonce Charles, o chefe da polícia haitiana, anunciou a realização de patrulhas pelos bairros para confiscar armas ilegais. Ainda assim, centenas de pessoas saquearam os depósitos de um parque industrial localizado a menos de um quilômetro do aeroporto.
Uma semana após assumir a Presidência do Haiti, o ex-presidente da Suprema Corte Boniface Alexandre foi empossado novamente ontem, desta vez em cerimônia oficial. Poucos minutos depois, centenas de simpatizantes de Aristide se reuniram em frente ao Palácio Presidencial pedindo o regresso ao país do ex-presidente.
O "Conselho de Sábios", criado para ajudar a contornar a crise política, deve anunciar hoje o nome do novo primeiro-ministro, que terá a missão de formar até sábado um gabinete de transição com integrantes do partido Lavalas (de Aristide) e do movimento de oposição ao ex-presidente. De acordo com a Constituição, Boniface Alexandre deve organizar uma eleição presidencial num prazo de 45 a 90 dias.

Com agências internacionais


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