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"DANO COLATERAL"
Hotel onde está a imprensa estrangeira é atacado; "jornalistas não são alvo", dizem EUA
Coalizão mata 3 jornalistas em Bagdá
Ramzi Haidar/France Presse
![](../images/e0904200302.jpg) |
Jornalistas carregam colega ferido após bombardeio ao hotel Palestine, em Bagdá |
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL AO
ACAMPAMENTO AL SAYLIYA (QATAR)
Forças invasoras da coalizão anglo-americana mataram ontem
em Bagdá três jornalistas estrangeiros. Com isso, o total de profissionais da imprensa mortos nos
19 dias do conflito é de 12, três vezes superior ao das seis semanas
da Guerra do Golfo, em 1991.
Nos ataques, foram atingidos o
hotel Palestine, que reúne a imprensa estrangeira, e a sede da TV
Al Jazeera. "A coalizão não tem
jornalistas como alvos", disse ontem o general-de-brigada americano Vincent Brooks em encontro com a imprensa no Qatar, do
qual a Folha participou.
Logo pela manhã, um tanque
americano acertou uma varanda
do 15º andar, o penúltimo do hotel Palestine. O petardo matou o
cinegrafista ucraniano Taras
Protsyuk, 35, da agência Reuters,
e feriu o cinegrafista espanhol José Couso, 37, da TV Telecinco,
que morreria depois, no hospital.
Três outros ficaram feridos.
Segundo os primeiros relatos do
general Brooks à imprensa, o
Exército americano estaria respondendo ao fogo de franco-atiradores localizados no lobby do
hotel. Depois, a informação foi retificada: o ataque iraquiano teria
vindo do topo do edifício, em forma de granada impulsionada por
foguete e diversos tiros.
Imagens da emissora France 3,
no entanto, desmentem os argumentos de Brooks. As cenas capturadas pelo cinegrafista francês
mostram que o local estava em silêncio momentos antes de o tanque atirar e que os operadores
deste levariam ainda cerca de três
minutos para ajustar seu canhão e
fazer mira na parte alta do hotel.
O Pentágono sabe que o Palestine é a sede dos cerca de 150 jornalistas na capital desde o começo
da guerra, mas o edifício teria virado alvo militar há 48 horas, segundo decisão do comando das
forças da coalizão em Bagdá que
teria sido comunicada aos jornalistas, que negam porém ter recebido qualquer aviso prévio.
"Vingança"
Antes, dois mísseis também da
coalizão haviam atingido a sede
da Al Jazeera, em Bagdá, matando
o repórter jordaniano Tareq Ayyoub, idade não divulgada, que
fazia uma transmissão ao vivo no
telhado no momento do ataque.
O jornalista ainda foi levado por
colegas em direção ao hospital,
mas não resistiu. Para o chefe de
Redação da emissora árabe, tratou-se de "um crime de guerra cometido deliberadamente". Segundo Hussein Abdel Ghani, os americanos teriam se vingado da cobertura jornalística independente
da rede sediada no Qatar.
Não é o que pensa Brooks. "As
forças de Saddam estão usando
lugares civis para instalar equipamentos militares de defesa", disse. "Além disso, não sabemos
quais são e onde operam os jornalistas que não estão "embutidos"
conosco e já os avisamos para deixar Bagdá, que virou um campo
de batalha muito perigoso."
"A situação da Al Jazeera parece
suspeita", disse Rageh Omaar, da
TV britânica BBC, também hóspede do hotel. "Sua redação havia
dado referências de satélite quanto à localização de seu prédio em
Bagdá e, pelo que vimos no momento do ataque, os mísseis estavam direcionados para o prédio mesmo, não pareceu engano."
No mesmo dia, disparos foram
feitos na direção de jornalistas da
TV Abu Dhabi enquanto filmavam o movimento de dois tanques americanos numa ponte sobre o rio Tigre. Duas câmeras foram atingidas, mas ninguém se
machucou. Segundo o diretor da
TV, o escritório havia recebido
uma ligação de um colega na vizinha Al Jazeera que prevenia que
algo iria acontecer. "Eles estão mirando nossos prédios", teria dito
o jornalista a Nart Bouran.
Protestos
Um protesto em frente à Embaixada dos EUA em Madri foi marcado para hoje. Ontem à tarde, no hotel Palestine, dezenas de jornalistas carregaram velas acesas em
homenagem aos colegas mortos.
Muitos decidiam com suas organizações o melhor momento e a
melhor maneira de deixar o país,
o que deve acontecer hoje em pelo
menos dez casos.
A maioria não deixou o hotel
ontem, segundo relato de Andrew
Gilloigan, da BBC. "Parece perverso permanecer num edifício
que foi atacado, mas a teoria aqui
é a de que o raio não cairá duas vezes no mesmo lugar", disse ele.
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