|
Próximo Texto | Índice
AMÉRICA DO SUL
Campanha marcada por troca de acusações de baixo nível culmina em eleição indefinida entre três candidatos
No dia do voto, resultado no Peru é incógnita
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
Os peruanos vão hoje às urnas
divididos entre três candidatos,
após uma imprevisível campanha
eleitoral marcada por uma intensa troca de acusações -a maior
parte delas centrada no surpreendente Ollanta Humala.
Contribui para a guerra de denúncias e de declarações de baixo
nível a acirradíssima disputa por
uma vaga no segundo turno, tido
como certo. A maioria das últimas pesquisas mostra um empate
técnico, com uma ligeira vantagem do nacionalista Humala, seguido pela direitista Lourdes Flores e o ex-presidente de centro-esquerda Alan García (1985-1990).
Humala, um tenente-coronel
aposentado em sua primeira
campanha eleitoral, foi acusado,
entre outros crimes, de ordenar
matanças durante a guerra contra
o Sendero Luminoso, de ter vínculos com Vladimiro Montesinos
-pivô do escândalo de corrupção que derrubou o governo Alberto Fujimori- e de ser financiado pelos petrodólares do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
A revista "Caretas", a mais importante do Peru e que declarou
apoio a Flores, chegou a fazer
uma capa em que uma gorila e o
seu filhote aparecem com os rostos substituídos por Chávez e Humala, respectivamente, os dois
sentados em maços de dólares.
O nacionalista sofre também
com o "fogo amigo" de sua excêntrica família, explorado à exaustão pela imprensa. A mãe defendeu o fuzilamento de homossexuais, o pai quer que apenas indígenas e mestiços sejam cidadãos,
e o seu irmão Antauro, preso por
rebelião e candidato a deputado,
propõe pena de morte a "traidores da pátria".
Para o jornalista e analista político Gustavo Gorriti, a avalanche
de acusações contra Humala fez
com que as investigações mais sérias contra o candidato nacionalista, sobretudo as que o vinculam
a Montesinos, perdessem força.
"Isso sempre acontece: quando
há informações de baixa qualidade publicadas junto com acusações sérias, cria-se um efeito de
sátira", afirma Gorriti, para quem
Humala "é um candidato antidemocrático, que representa a
ameaça fascista no Peru".
Embora menos atacada do que
Humala, a conservadora Lourdes
Flores sofre por ser a única mulher entre os candidatos com
chance real de vitória. O ex-presidente Alan García, que a escolheu
como alvo preferencial para chegar ao segundo turno, referiu-se a
ela como a "direita gorda" no seu
encerramento de campanha, realizado na última quinta-feira
-uma evidente alusão aos quilos
a mais de sua adversária.
A campanha de Flores acusou
García de estar por trás de um vídeo no qual a candidata aparece
supostamente com um dedo médio em gesto obsceno contra
apoiadores de Humala durante
uma carreata. Ela diz que levantou o dedo indicador.
Mas o pior aconteceu durante
uma entrevista ao popular apresentador de TV Jaime Bayly -espécie de Clodovil peruano-, que
lhe perguntou "a última vez que
havia visto um pênis". Constrangida, Flores, que é solteira, disse
que tinha sido num clube de strip-tease "com umas amigas".
Para o jornalista César Hildebrant, a culpa não é da imprensa,
mas dos candidatos ruins. "Não
somos os únicos. Mas -isso
sim- somos os melhores", escreveu, em artigo publicado no domingo passado. "Ninguém como
o peruano para construir seus
próprios pesadelos."
Próximo Texto: Comércio com o Brasil cresceu 23% neste ano Índice
|