São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

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MULTIMÍDIA
Suécia cria o novo cargo de ombudsman contra homofobia

ANTOINE JACOB
em Estocolmo

Caixas repletas de documentos estão empilhadas no corredor e no interior de seu escritório, situado no centro histórico de Estocolmo. Desde 1º de maio, Hans Ytterberg é o ombudsman que combate a discriminação por orientação sexual na Suécia -segundo ele, o primeiro do mundo a ter essa função. O governo sueco lhe deu o título abreviado de HomO, ou ombudsman da homossexualidade.
O novo HomO acabava de se mudar do Ministério da Justiça, onde era conselheiro jurídico, quando foi solicitado a comentar o atentado a bomba contra um pub gay em Londres, no dia 30 de abril, que deixou três mortos. Para ele, "esse ódio terrível contra os homossexuais mostra que ainda há muito por fazer". Ele concordou que fatos desse tipo também poderiam acontecer na Suécia.
Segundo a Federação Nacional de Gays e Lésbicas da Suécia (FNGLS), nos últimos 12 anos pelo menos 27 homens e mulheres foram assassinados no país por causa de sua homossexualidade real ou presumida. Vários dos assassinos eram neonazistas.
"O mínimo que se pode exigir da sociedade é que ela prenda os que incitam ao ódio contra homossexuais", diz Ytterberg. Dirigindo-se aos partidos políticos suecos, afirma: "O atentado de Londres vai abrir os olhos de quem ainda duvidava da necessidade disso".
O Parlamento se mostra relutante em modificar a Constituição sueca para qualificar como crime o incitamento ao ódio contra homossexuais. O tema é delicado porque implica uma restrição à liberdade de expressão, que faz da Suécia um dos centros mundiais de produção de música racista, a chamada música do "poder branco", que despreza judeus, negros e homossexuais em doses iguais.
A Suécia é um país curioso. Até 1979, o homossexualismo ainda era oficialmente qualificado como doença mental. Quinze anos mais tarde, o país figurava entre os primeiros a autorizar o casamento civil de casais de gays e lésbicas.
Para Ytterberg, houve uma revolução nas últimas décadas. Ele próprio contribuiu para ela com sua militância na FNGLS, que presidiu durante dez anos.
Mas os preconceitos não morrem facilmente. Para políticos, revelar sua condição homossexual ainda é tabu. Nas escolas, um dos piores insultos que se pode fazer a alguém é chamá-lo de "bicha".
Ytterberg poderá lançar campanhas de informação e abrir processos na Justiça contra as empresas que afrontarem a lei contra a discriminação por orientação sexual no local de trabalho.
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Tradução de Clara Allain



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