São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Um já foi, mas faltam centenas de milhares

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Abu Musab al Zarqawi foi morto, mas a luta continua. Os EUA tentarão capitalizar ao máximo a vitória parcial, como fizeram com a captura de Saddam Hussein, mas o fato é que o líder será substituído por outro, a insurgência seguirá e a guerra entre sunitas e xiitas, a que importa de verdade, não deverá sofrer abalos. Alguns pontos:
1. A "guerra ao terror" ainda não acabou. "No máximo, sofreu um arranhão", afirma Michael O'Hanlon, analista militar da Brookings Institution, em Washington. O conflito maior no Iraque não é entre a Al Qaeda e os EUA ou o governo iraquiano. É entre xiitas e sunitas, como Zarqawi. "Se você matasse todos os membros da Al Qaeda no país, não resolveria o problema entre os dois grupos", diz Stephen Biddle, analista de defesa do Council on Foreign Relations, em Washington.
2. Zarqawi não é insubstituível. Claro, ele já foi chamado de "príncipe" por Osama bin Laden e era a face mais evidente da insurgência, até por ser o que mais aparecia nos vídeos divulgados no Ocidente. "Mas Zarqawi não era significativo operacional ou tecnicamente", crê O'Hanlon. "Ele era carismático, um comunicador, mas eliminá-lo não vai eliminar nem mesmo os vídeos, quanto menos a organização", concorda Biddle.
3. A morte do sunita não fortalece necessariamente os xiitas. O regime iraniano, xiita, ganha em influência com o enfraquecimento dos sunitas, mas Zarqawi já vinha sendo visto como um peso por seus simpatizantes. "Muitos sunitas discordavam dos métodos dele. Achavam que ele mais prejudicava do que ajudava a causa mundialmente", diz Biddle. "Seu peso vinha diminuindo entre os sunitas nos últimos meses", segundo O"Hanlon.
4. A ação que culminou na morte do terrorista não é só fruto da harmonia atual entre os governos do Iraque e dos EUA. Os primeiros relatos citam a inteligência jordaniana e depoimentos de sírios presos no Iraque como fundamentais. Outros dizem que gente do comando sunita o entregou. Há ainda a hipótese do "popular" que teria flagrado o líder da Al Qaeda se movimentando de um esconderijo para outro e buscado os US$ 25 milhões prometidos pelos EUA. Nenhuma das hipóteses foi confirmada ou descartada ainda.
5. Bush tentará sair fortalecido. A Casa Branca já trabalha com o pé no acelerador nesse momento em que sua aprovação bate recordes negativos, a opinião pública começa a se cansar da guerra, e os militares em ação no Iraque sofreram novo golpe na reputação. Mas a história não está ao lado do republicano. Quando Saddam foi capturado, a aprovação do presidente foi de 49% a 63%, mas, em dois meses, voltou ao patamar de antes. "As pessoas aprenderam que prender nomes-chave não acaba com a guerra", diz Biddle.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Zarqawi fez do Iraque seu trunfo e legado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.