São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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Zarqawi fez do Iraque seu trunfo e legado

Renome só veio após o jordaniano passar por Afeganistão, Irã e Curdistão

Terrorista usou ácido para apagar tatuagem e deixar para trás passado arruaceiro ao se tornar "guerreiro de Alá" na década de 1980


RÉMY OURDAN
DO "LE MONDE"

A trajetória de Abu Musab al Zarqawi, cujo nome verdadeiro era Fadel Nazzal al Khalayleh, começou em 20 de outubro de 1966 na cidade de Zarka, na Jordânia, a 20 quilômetros da capital, Amã. Zarka é um reduto do salafismo, o islamismo radical ao qual Fadel aderiu quando se tornou "guerreiro de Alá". Seus pais eram beduínos.
Mas a verdadeira trajetória de Zarqawi, a trajetória de sangue, aquela do jihadista, começou, como foi o caso de muitos homens de sua geração, no Afeganistão, nos anos 1980. Foi ali que os jihadistas de todo o mundo se reencontraram, na guerra contra o Exército soviético. Foi na fronteira entre Paquistão e Afeganistão, em Peshawar, que o jovem saudita Osama bin Laden criou uma organização que iria tornar-se um movimento jihadista de vocação mundial -a Al Qaeda.
O desempregado de Zarka, ocasional arruaceiro, briguento e tatuado, encontrou um sentido para sua vida. Ele gostava da guerra e tinha carisma. Conta-se que uma vez ingressado na jihad, Fadel usou ácido para apagar sua tatuagem, uma âncora, que enfeitava seu corpo quando ainda era infiel.
Abu Musab al Zarqawi teria retornado à Jordânia no início dos anos 1990. Em 1994, foi detido e encarcerado. Foi na prisão que ele aperfeiçoou seu perfil de jihadista, buscando refúgio no Alcorão, e seu perfil de "emir", ou condutor de homens. Anistiado em 1999, retomou o caminho do Paquistão e do Afeganistão. Nesse último -que, nesse ínterim, se tornara um emirado do Taleban e base da Al Qaeda-, foi apresentado ao "xeque" Osama bin Laden.
Os dois homens não teriam apreciado um ao outro. Bin Laden queria alvejar o Ocidente e a Arábia Saudita; Zarqawi cultivava o ódio por Israel e os xiitas. Tolerado pela Al Qaeda, sem tornar-se dirigente, ele criou seus próprios campos de treinamento militar no norte do país, perto de Herat.
Após o 11 de Setembro e a intervenção americana, quando os jihadistas tiveram que fugir do Afeganistão, Zarqawi escolheu o caminho do Irã e, depois, a região curda. Ele é acusado, também, de ter planejado o assassinato do diplomata americano Laurence Foley, em 2002, em Amã.
Mas seu percurso de chefe jihadista inconteste começou no Iraque. Ele reivindicou os primeiros atentados, especialmente a ação contra a sede da ONU em Bagdá, em agosto de 2003. Em pouco tempo, distinguiu-se pela crueldade. De acordo com a CIA, ele foi identificado em algumas das primeiras gravações em vídeo de decapitação de reféns ocidentais. Em seguida, multiplicou os atentados sangrentos contra a comunidade xiita.
Apesar de sua divergência política persistente com Bin Laden, Zarqawi terminou por ser reconhecido pelo líder da Al Qaeda como chefe de suas operações no Iraque. Para o antigo arruaceiro jordaniano, foi a consagração. Os EUA colocaram sua cabeça a prêmio por US$25 milhões, o mesmo valor oferecido por Bin Laden. Foi sua consagração -e também sua sentença de morte.


Tradução de CLARA ALLAIN

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