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Zarqawi fez do Iraque seu trunfo e legado
Renome só veio após o jordaniano passar por Afeganistão, Irã e Curdistão
Terrorista usou ácido para
apagar tatuagem e deixar
para trás passado arruaceiro
ao se tornar "guerreiro de Alá" na década de 1980
RÉMY OURDAN
DO "LE MONDE"
A trajetória de Abu Musab al
Zarqawi, cujo nome verdadeiro
era Fadel Nazzal al Khalayleh,
começou em 20 de outubro de
1966 na cidade de Zarka, na
Jordânia, a 20 quilômetros da
capital, Amã. Zarka é um reduto do salafismo, o islamismo radical ao qual Fadel aderiu
quando se tornou "guerreiro de
Alá". Seus pais eram beduínos.
Mas a verdadeira trajetória
de Zarqawi, a trajetória de sangue, aquela do jihadista, começou, como foi o caso de muitos
homens de sua geração, no Afeganistão, nos anos 1980. Foi ali
que os jihadistas de todo o
mundo se reencontraram, na
guerra contra o Exército soviético. Foi na fronteira entre Paquistão e Afeganistão, em Peshawar, que o jovem saudita
Osama bin Laden criou uma organização que iria tornar-se
um movimento jihadista de vocação mundial -a Al Qaeda.
O desempregado de Zarka,
ocasional arruaceiro, briguento
e tatuado, encontrou um sentido para sua vida. Ele gostava da
guerra e tinha carisma. Conta-se que uma vez ingressado na
jihad, Fadel usou ácido para
apagar sua tatuagem, uma âncora, que enfeitava seu corpo
quando ainda era infiel.
Abu Musab al Zarqawi teria
retornado à Jordânia no início
dos anos 1990. Em 1994, foi detido e encarcerado. Foi na prisão que ele aperfeiçoou seu
perfil de jihadista, buscando refúgio no Alcorão, e seu perfil de
"emir", ou condutor de homens. Anistiado em 1999, retomou o caminho do Paquistão e
do Afeganistão. Nesse último
-que, nesse ínterim, se tornara
um emirado do Taleban e base
da Al Qaeda-, foi apresentado
ao "xeque" Osama bin Laden.
Os dois homens não teriam
apreciado um ao outro. Bin Laden queria alvejar o Ocidente e
a Arábia Saudita; Zarqawi cultivava o ódio por Israel e os xiitas.
Tolerado pela Al Qaeda, sem
tornar-se dirigente, ele criou
seus próprios campos de treinamento militar no norte do
país, perto de Herat.
Após o 11 de Setembro e a intervenção americana, quando
os jihadistas tiveram que fugir
do Afeganistão, Zarqawi escolheu o caminho do Irã e, depois,
a região curda. Ele é acusado,
também, de ter planejado o assassinato do diplomata americano Laurence Foley, em 2002,
em Amã.
Mas seu percurso de chefe jihadista inconteste começou no
Iraque. Ele reivindicou os primeiros atentados, especialmente a ação contra a sede da
ONU em Bagdá, em agosto de
2003. Em pouco tempo, distinguiu-se pela crueldade. De
acordo com a CIA, ele foi identificado em algumas das primeiras gravações em vídeo de
decapitação de reféns ocidentais. Em seguida, multiplicou
os atentados sangrentos contra
a comunidade xiita.
Apesar de sua divergência
política persistente com Bin
Laden, Zarqawi terminou por
ser reconhecido pelo líder da Al
Qaeda como chefe de suas operações no Iraque. Para o antigo
arruaceiro jordaniano, foi a
consagração. Os EUA colocaram sua cabeça a prêmio por
US$25 milhões, o mesmo valor
oferecido por Bin Laden.
Foi sua consagração -e também sua sentença de morte.
Tradução de CLARA ALLAIN
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